sábado, 13 de janeiro de 2018

Devaneios

Esse apartamento é tão legal, que eu fico pensando se essas pessoas que moram aqui tem algum problema, algum sofrimento. Me sinto tão bem aqui, que parece até que eu sou a criança vindo brincar. Brincar de sentir como deve ser morar aqui, com tanto espaço, com tudo lindo, com essa vista maravilhosa, com uma vida em que dinheiro não é lá uma grande preocupação. A família deles é bonita, ela é muito bonita, estilosa, ele, um gato grisalho, barba já meio branca. As crianças são lindas e bravas, inteligentes e questionadoras. A gente se diverte muito e sabe quando tudo funciona? Interruptor ao lado da cama, armarinho de guardar condimentos ao lado do fogão, área de limpeza grade, churrasqueira com frigobar. O apê é, por si só, muito maravilhoso, mas mais do que isso, sinto que aqui vive uma família feliz. E acho que esse é o grande barato da vida: construir uma base legal pra poder criar uma criança nesse mundo louco. Mas com uma base firme tudo fica mais fácil, acredito eu. Fico imaginando se ela tem alguma dor ou se ela tem tempo de apreciar e curtir essa vista da cidade, assim como faço sempre que tenho a oportunidade de vir aqui.

Será que ela cozinha nesse fogão lindo de inox? A realidade é tão distante da minha que adoro brincar de imaginar como deve ser. Como deve ser esse cotidiano, como é que deve ser quando sai aquele dia chuvoso, feio e chato, quando bate o tédio, aliás, será que bate tédio morando num lugar como esse? O mundo é muito grande, a vida é uma só, a gente é responsável pelas nossas escolhas, mas deveria sim ter um dispositivo, um jeito, alguma maneira da gente poder viver 24horas na vida de outra pessoa pra poder sentir o gosto. E isso vale pra além das classes sociais, dos países, das outras culturas, já pensou que máximo?

As pequenas tão ingênuas, tão puras, nem imaginam a minha felicidade em poder olhar os vestidos, os brinquedos e também brincar e esquecer todos os meus perrengues e as minhas dores, esquecer tudo,e por pouco tempo que seja me sentir melhor e soltar minha imaginação junto delas....

Eu sou uma repórter que adora se infiltrar, sentir, mas sentir de verdade, o gosto, o cheiro, a essência, seja pelas palavras ou pela experiência, não me esqueço que foi por isso que quis ser jornalista. É pela oportunidade de viver outras experiências que essa profissão é tão linda, e eu, sem querer, através das crianças, posso experimentar e conhecer novas casas e novas famílias.


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