sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Por mais respeito na folia

Este meu texto foi publicado no Brasil Post no movimento #agoraequesaoelas.  O feminismo é um combate árduo e diário, mas só com muita discussão viraremos esse jogo! 
Quatro dias de intensa farra, liberdade, desprendimento, diversão e fantasia: o Carnaval é o momento mais esperado do ano por mim e por tantos que eu conheço. Gosto tanto que até criei uma máxima: "Não há nada como o Carnaval". Mas também não há nada como o machismo do Carnaval. Porque se tem uma coisa que os caras não entendem é que é possível você estar ali no meio do bloco e não querer beijar ninguém, e não querer que nenhum cara encoste em você. "Mas veio pro bloco fazer o quê?" É o que eu e minhas amigas temos que responder incansáveis vezes, isso quando eu não preciso usar de força física e empurrá-los pra bem longe mostrando que não estou afim de contato.
É difícil, e o pior é que eu sinto que já estou acostumada com essa aporrinhação carnavalesca que, ainda bem, é minimizada pela sensação de chegar ao final de mais um percurso suada e muito feliz.
O machismo (infelizmente) impera no Carnaval. A ideia da liberdade e da folia faz com que muitos homens se achem no direito de chegar, agarrar e simplesmente beijar uma mulher. Eu pulo Carnaval há vários anos e é com alivio que sinto uma crescente diminuição desses ataques mais bruscos, mas ainda assim em 2015 bastava olhar para o lado e ver alguma mulher se defendendo, chamando os amigos homens ou fingindo que tem namorado. Eis um outro ponto muito chato: ter que mentir e fingir que estou acompanhada de outro homem porque só assim o cara vai entender. O respeito não é para mim e sim para um outro homem, fala sério!
E como lidar com os bêbados? Uma vez durante um bloco em Cerquilho um cara chegou literalmente puxando o braço de uma amiga e eu e mais um amigo tivemos que intervir até que ele fosse embora. Algumas amigas me perguntam se eu não tenho medo de ser agredida.
E a verdade é que na hora minha revolta é tão grande que supera qualquer temor. Tanta coisa poderia ser diferente. A começar pela própria mídia que usa o corpo das mulheres (sejam foliãs, passistas ou rainhas de bateria) pra gerar ibope e clique. Durante a transmissão das escolas de samba é nítido o enfoque que os cinegrafistas e fotógrafos dão nas bundas e nos peitos. Sinceramente: qual a necessidade disso? E todo ano é a mesma coisa: o maior destaque no Carnaval é para as mulheres e não para a festa em si.
A mudança deveria ser de um todo e em todos os cenários. Ainda bem que os amigos que pulam carnaval comigo já sabem que é pra deixar as mulheres em paz e somente se houver interesse de ambos, ai sim, ai vai com vontade!
Faltam somente dois meses para mais uma Festa de Momo, ansiedade e coração já ansiosos por mais quatro lindos dias de festa na rua, mas espero francamente que os homens se conscientizem de uma vez por todas a importância de deixar as meninas em paz!
Fica a dica: Mais vale um folião sozinho do que um mala nos irritando!

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Antes Só

Antes só do que com um babaca do lado
antes só do que com um coxa fútil segregador
antes só do que com um cara que não te assume publicamente
antes só do que um medroso
antes só do que com alguém que te põe pra baixo
antes só do que com nego que caga regra
antes só do que com quem não te deixa ser quem você é
antes só do que com um cara bonito que é só...  bonito!
antes só do que com um intelectual que fica te dando aula de filosofia
antes só que com um leonino exibido
antes só do que um canceriano chorão
antes só do que com forrozeiro metido a espertão, te jura amor, mas vai pro forró escondido
antes só do que com qualquer pessoa machista
antes só do que com um stalker
antes só do que com um fanático
antes só do que com um extremista
antes só do que com um fortão que só fala de treino e açaí
antes só do que com ciumento louco
antes só do que com fofoqueiro
antes só do que com insegurinho da Silva
antes só do que com alguém metido a grandeza
antes só do que com quem faz joguinho (pfv gente)
antes só do que com quem se importa mais com likes
antes só do que com quem não sabe demostrar que tá afim (terapia tá aí pra isso)
antes só do que com quem se acha troféu
e quem te poda?  Diz o que pode ou não fazer? Ora, antes só!
antes só do que com orgulhoso do lado, sabe que tá errado e mesmo assim paga de fodão
antes só do que com insensível
antes só do que com ignorante
antes só do que com São Paulino
antes só do que com homofóbico
antes só do que com preconceituoso
antes só do que com gordofóbico
antes só do que com racista
antes só do que com quem faz mimimi
antes só do que com quem não gosta de fazer oral
antes só do que com quem paga de libertário e não segura o rojão depois
antes só do que com injustos
antes só do que com espertinhos que tentam tirar proveito de tudo
antes só do que com quem conta as calorias da sua comida e “te alerta” sobre engordar
antes só do que com quem não respeita seu tempo, seu horário, te faz esperar e nem avisa
antes só do que com quem não sabe pedir desculpas.

Depois que você entende o sentido de “não ser obrigada”, muita coisa muda e mais vale estar sozinha do que com quem quem tira sua sanidade. A vida é muito mais  que isso, antes só, antes feliz, antes sem chorar!
 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Calor:

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calor: vida!

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Gostei desse ser humano aqui

É tão bom ter amigos, me sentir querida, acolhida, cuidada. Eu sou aquela que faz as pessoas rirem,  anima o ambiente, estou sempre de ouvidos e braços abertos para ouvir todas as história (amo) e dar conselho, etc e tal, mas são nos momentos de baixa, que consigo sentir todo o amor e carinho!  Às vezes é necessário expor de forma um pouco escancarada o que é que tá pegando, porque meu jeito mascara os problemas, é quase uma fuga. 

Passei anos não me dando o direito à fossa e é no stand up que afogo as mágoas e paro de pensar. Mas de um tempo para cá eu me permito ser cuidada e isso é bom demais. A ajuda e os conselhos surgem de onde menos espero e isso tem um lado bom, que é enxergar com quem posso contar de verdade. Arrisco dizer que é surpreendente.

um amigo que me tira de casa pra andar pelo bairro e tomar cerveja,
amigas que me aconselham, me fazem rir e me distraem,
ou aquela que mesmo com a agenda indisponível tem tempo para ouvir pela milésima vez o quão difícil está a minha vida,
a professora que me pergunta se estou melhor, completa a aula com alongamentos, só para eu me sentir maid confortável e aliviar a tensão,
aquela pessoa que te conhece tanto e com poesia faz o mundo parecer melhor: indica uma música, sugere um almoço, promove algum movimento.

Cuidado, cuidar, que importância percebo agora na minha vida!

Eu amo cuidar. Do cafézinho aos áudios do whatssap, emprestar um vestido querido, postar uma foto, recomendar um texto. Realmente os amigos são a família que nós escolhemos e eu tenho muita sorte de tê-los comigo. Jamais posso esquecer. Por mais triste que seja meu dia, meus amigos me completam!

obrigada!


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Combinados

Alô, por favor o Pedro?
Quem é?
É a Brasil.

Fala Brasa, tá feliz né? fiz do jeitinho que você me pediu
Pedro, mano, eu tô super feliz, mas geral tá mei puto com você, por isso te liguei!
Tão puto porquê?
Porque você é muito intenso, já te falei! Se é frio você faz parecer Rússia, se chove, você manda água sem parar, e agora, esse calor da Zâmbia! não é assim.
Porra Brasa, mas aí eu não te entendo.
Pedro, já te disse, para de me imitar! quem manda nesse clima ai é você, não eu. a intensa do rolê sou eu. Você tem que ser equilibrado, saca? Jean, Thaís, Fernanda, minha mãe, até os cubanos que tão acostumados, eles tão revoltados, não tão aguentando esse calor! e eu nem posso falar nada, você sabe! 
Tá bom, vou ver o que posso fazer.
Sério, cadê vento? cadê chuva passageira que alivia essa temperatura? Ai de cima é muito fácil controlar, não é você que pega busão lotado, né?
Eu não, não sou obrigado. Você pediu bola de fogo, eu mandei!
Beleza, mas vê se manda pelo menos uma garoa, não por mim, que sou bicho do calor, manda pra eles, esses reclamões!
Fechado!
Conto com você, beeeeeeeeeeijo!



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Pqna Dosagem...

... Sobre a vida de Freelancer

E eis me aqui, trabalhando com comunicação e independente! Eu já quis muito isso para mim, mas tinha receio, medo de não dar conta e etc, mas como tudo o que acontece naturalmente é muito melhor, agora posso contar que há 04 meses sou dona do meu nariz e do meu trabalho.

Feliz, tranquila, conseguindo administrar meu tempo, pegando o carro sempre na hora contrária do rush, fazendo a feira semanalmente e me alimentando melhor, praticando pilates, vendo séries, treinando inglês e trabalhando muito! É sensacional ler e saber que isso é real.

Eu sonhei e idealizei uma carreira tradicional e concreta, sonhei em trabalhar com televisão e ai 2015 chega mostrando a que veio, uma crise lascada no país, o jornalismo passando por mudanças vorazes (e loucas!) em sua estrutura e eu, por incrível que pareça, não me desesperei. Ainda estou aprendendo a organizar as finanças, a lidar como empresa, mas tem sido uma fase muito especial e criativa.

Os dias rendem e faço trabalhos recompensadores, diferentes entre sí e que me acrescentam demais. É sim possível viver com menos dinheiro e melhor ainda gastar com aquilo realmente necessário. Eu tenho paz para escrever meus textos seja no quarto, na cozinha ou na varanda, no finzinho de tarde e vendo o pôr do sol. Eu posso criar uma estratégia ao mesmo tempo que tomo meu café, ou parar tudo e fazer alongamento depois de acender um insenso. É apenas maravilhoso e sou muito grata ao universo por ter conseguido me estruturar dessa maneira.

Obviamente há fatores negativos, entre eles todos os barulhos que a mecânica vizinha consegue fazer, além dos motoqueiros que ficam acelerando a moto sem parar (e eu torcendo pra eles cairem!), alguns freelas que esquecem de pagar, às vezes ter que trabalhar de madrugada, mas o saldo é mais positivo e se antes eu tinha uma angustia latente de não saber o que fazer caso o jornalismo acabasse de vez (tá muito tenso), agora talvez eu consiga enxergar um novo caminho possível.
Eu vou trabalhar com comunicação que é o que mais sei fazer nessa vida!

Uma vez durante uma pauta sobre estilo de vida a fonte me disse: "Todas as vezes que eu não sabia o que fazer eu voltava às minhas origens, é importante não esquecer nossa origem!", e eu tomei essa frase pra mim. Minha origem é essa: escrever. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Modo avião

Nathy, e fulanx, tem falado com elx?
Não. Deixei no modo avião.

E é assim que eu tenho feito com muita gente. O modo avião, esse lindo. Esse que te poupa energia, não tira seu tom, preserva amizades, limpa as sujeirinhas. Cansei de disperdiçar energia com quem não merece e percebo, cada vez mais, que por mais que eu ame as pessoas deixá-las em modo avião é necessário e traz vigor para a relação. E isso serve para a família, amigos, colegas de trabalho etc. 

Cada um vive a sua vida, na sua vibe, com seus problemas e dilemas etc. e sendo assim é meio natural que role um distanciamento entre alguns e aproximação com outros. Eu me percebo ouvindo cada coisa desnecessária, cutucadas grátis que não me fazem sentido, ou gente que vem dar pitaco na minha vida sem eu ter pedido. Vou amadurecendo e ficando cada vez menos julgadora da vida alheia, mas meus ouvidos estão aqui prontos para ouvir e dar apoio, e eu gostaria muito que a recíproca fosse verdadeira, mas nem sempre é. 

Aprendi também a dar conselho. Direta e reta como sempre fui, agora percebo a imporância do tom de voz e das palavras a serem usadas sempre que alguém precisa. Ser direto e reto nessas horas não tem muito sentido e ainda deixo uma pessoa querida triste. Precisa? Não, não precisa!

Então por isso e para isso eu coloco no modo avião. Ali quietinho sem me incomodar, sem me contaminar com ranço daquilo que nem é meu. Eu prefiro meu discos, o silêncio do quarto com cheiro de incenso, andar no meu carro tranquila ouvindo música dançante, beber cerveja com um brother que só fala besteira, mas me arranca várias risadas.

Eu acho que a vida precisa de leveza, menos mimimi e mais ação. Sempre pensei e prezei por isso, só que ao invés de deletar da vida e do face, como fiz diversas vezes, agora eu simplismente coloco no modo avião. E ai quem faz sentido volta, sempre acaba voltando, e quem seguiu um caminho muito diferente do meu segue sua caminhada. Olha aí a vida fazendo sua natural decantação.

Distanciamento, silêncio e paz.  Na vida e nas relações!

domingo, 31 de maio de 2015

Reticências

Arrumar a vida, pôr prateleiras na vontade e na ação. 
Quero fazer isto agora, como sempre quis, com o mesmo resultado; 
Mas que bom ter o propósito claro, firme só na clareza, de fazer qualquer coisa!
Vou fazer as malas para o Definitivo,
Organizar Álvaro de Campos,
E amanhã ficar na mesma coisa que antes de ontem — um antes de ontem que é sempre...
Sorrio do conhecimento antecipado da coisa-nenhuma que serei.
Sorrio ao menos; sempre é alguma coisa o sorrir...
Produtos românticos, nós todos...
E se não fôssemos produtos românticos, se calhar não seríamos nada.
Assim se faz a literatura...
Santos Deuses, assim até se faz a vida!
Os outros também são românticos,
Os outros também não realizam nada, e são ricos e pobres,
Os outros também levam a vida a olhar para as malas a arrumar,
Os outros também dormem ao lado dos papéis meio compostos,
Os outros também são eu.
Vendedeira da rua cantando o teu pregão como um hino inconsciente,
Rodinha dentada na relojoaria da economia política,
Mãe, presente ou futura, de mortos no descascar dos Impérios,
A tua voz chega-me como uma chamada a parte nenhuma, como o silêncio da vida...
Olho dos papéis que estou pensando em arrumar para a janela,
Por onde não vi a vendedeira que ouvi por ela,
E o meu sorriso, que ainda não acabara, inclui uma crítica metafisica.
Descri de todos os deuses diante de uma secretária por arrumar, 
Fitei de frente todos os destinos pela distração de ouvir apregoando,
E o meu cansaço é um barco velho que apodrece na praia deserta, 
E com esta imagem de qualquer outro poeta fecho a secretária e o poema...
Como um deus, não arrumei nem uma coisa nem outra...

Álvaro de Campos

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Conviva com isso

Quando a pessoa empaca na catraca do metrô
ou no ônibus fica procurando em qual das cinco bolsas e sacolas está o bilhete único
Quando o carro da frente anda a 30 Km/h
ou a máquina de cartão de crédito fica sem sinal bem na minha vez
ou na lanchonete a pessoa fica indecisa do que vai pedir e enche o atendente de perguntas sobre os sabores do lanche, dos sucos, bolos e doces etc.

É sempre um mini infarto, uma bufada e virada de olho, pernas impacientes. Planejo assassinatos, invento palavrões, começo a cantar mentalmente algum forró muito querido pra amenizar meu ódio e impaciência. Maldigo o mundo: Inferno!

Dai lembro que é a vida tirando mais uma com a minha cara: vai ter que esperar, conviva com isso!
E ao invés de aprender e desencanar da parcela lerda da sociedade, eu rebelde, insisto em teimar, esquecendo-me que viver nada mais é do que uma eterna espera. Tolinha.





domingo, 17 de maio de 2015

Saudade e outros tons


Coloquei os discos pra tocar na ânsia de diminuir a saudade e acalmar meu coração inquieto. Que é uma forma de sentir você perto mesmo não estando. 

Fiquei olhando a vitrola linda e vermelha que ganhei de aniversário, viajei, lembrei dos forrós no quarto, das tardes quentes de verão. Nara cantava Opinião, pausei e coloquei Gil, ainda não tava do jeito que eu queria e mandei Chico. A saudade é uma coisa mucho loca mesmo. Vou engolindo o calendário, quero pular os dias e acordar só no dia que você bater no portão e dizer: Braza, cheguei! 

Quem foi que escreveu essa cena, essa sequência mista de cenas lindas e tristes ao mesmo tempo? Isso não tava no meu roteiro. A saudade é foda, é a forma de perceber que o sentimento existe mesmo a quilômetros de distância. Acho bonito, desconhecia essa maneira de gostar.

E se de um lado eu choro de outro eu gargalho, meu lado bom reforça a ideia de que "tá tudo bem, porque a vida é assim mesmo e o importante é viver tudo isso". É, tá tudo bem. 

O disco acabou, sobrou o silêncio no quarto. Levantei e coloquei um mais animado pra tocar, do jeito que você me ensinou. "O som não pode parar, Braza." 


quarta-feira, 13 de maio de 2015

Sobre o melhor vinagrete do mundo

Nessa vida já fiz muita coisa, sempre com a intensidade que herdei de berço. Já cruzei São Paulo indo longe, muito longe, mais precisamente no Jardim 9 de Julho, São Mateus, zona leste. Do Butantã até lá eram 50 minutos de carro ou 1h30 de ônibus e metrô. E foi assim por uns três meses. Quando me envolvo, me envolvo mesmo, que esse negócio de regular sentimento nunca foi comigo.

Era uma cidade completamente diferente da que eu vivia, interessante e viva. Recheada de bailes funk, pessoas na rua ouvindo som alto, churrasco no quintal, bares. Descrevendo assim parece igual a todos os bairros, mas era diferente. As pessoas meio desconfiadas, porém acolhedoras. A gente ia entrando pelas casas da vizinhança, comia uma torta aqui, tomava uma cerveja acolá. Meio interior, meio vila. Fui recebida sempre com muita simplicidade, e curiosa, captava tudo ao meu redor: as casas, os cheiros, os costumes, o córrego sujo que cortava o bairro, a escola quase abandonada. Sesc Itaquera era nosso vizinho e meu pensamento: "Eu tô muito longe da minha casa, mas quer saber? Nem ligo, tô feliz e é isso que importa". E assim seguiu esse mini-romance até virar o outono e chegar ao final.

Admiro muito quem não teme demonstrar sentimentos, quem consegue abrir a vida e compartilhar seu modo de viver. Naquela época fui muito feliz com pouco, um quarto e uns CDS de forrós antigos, rememorando a época do KVA, comendo batata frita por aí, correndo atrás de uma vaga pra guardar meu carro, tomando café da manhã feito por quem eu gostava, tem melhor?

E todos os domingos em que eu estive lá, eu disse todos, eu comi o melhor vinagrete que já provei na minha vida. A mãe dele, fofa e forte, me contava histórias de como era ser negra e morar na periferia nos anos 80. Enquanto eu ouvia, ela cozinhava, cortava os tomates, as cebolas e as salsinhas. Eu, em silêncio, agradecia a cada colherada.

Num dia de verão e sol a pino, o bafo quente do chão invadia a casa e nem mesmo o solo, que geralmente é fresco, dava conta do calor. No fundo da casa havia um poço e foi de lá que tiramos os baldes da água gelada pra sossegar o corpo.

Atualmente, trabalhando no Belém, diariamente pego o mesmo metrô que há anos atrás me levava para lá. Apesar de rápida essa história foi bonita e verdadeira. São nesses momentos que tenho orgulho de tudo que ja vivi, de quem conheci sem medo do que vinha pela frente. Não tive mais notícias deles, mas o vinagrete jamais saiu da minha cabeça (e do meu paladar).


Núcleo Base.


domingo, 12 de abril de 2015

Composição de capítulos


A vida é feita de instantes. Um churrasco com forró em vinil. Um bar tocando música brasileira. Uma gringa jantando na sala da minha casa. O vinho no Natal. Os blocos amados de Carnaval. Pequenos instantes que desenham e escrevem a história, aos poucos, constantemente. Não tenho o controle sobre a escrita dos outros, mas posso escolher se escrevo a minha a lápis, caneta ou giz de cera. E é preciso apontar, ou forçar a caneta quando ela insiste em não querer rabiscar. Há também a espera, a expectativa, planos, projetos, sonhos, que vão surgindo e compondo o desenho-texto.

Instantes. Momentos. A vida pulsando e o coração mandando o recado de que vai bem obrigado.
Não adianta antecipar acontecimentos ou sensações, sofrer à toa ou comemorar o que ainda nem se concretizou, É preciso paciência. Pro bolo assar, pra criança nascer, o salário entrar, o sol sair. E é justamente no ato do acontecimento que o corpo reage e a mente vai se dando conta do que aconteceu. 


Quando bate meia noite de 1 de janeiro, rola o primeiro beijo, o sim do processo seletivo, o não do pedido de casamento, a batida do carro, a música favorita na balada, o término, a viagem de férias, o primeiro choro do bebê, a vela apagada no aniversário, o ente querido que muda de plano, a bolsa do mestrado que saiu. 

E a ficha cai. 

Papel em branco a postos pra começar mais um capítulo. É difícil acalmar a mente e não tropeçar sozinha, tenho a mania de olhar pro horizonte e imaginar o que me espera daqui 40 anos, instantes longínquos impossíveis de decifrar. A sorte é já ter a consciência de que viver o agora vale mais do que adivinhações. 

Posso contar com a memória e relembrar capítulos lindos já vividos e me orgulhar desse livro que venho compondo sem medo, só dosando a ansiedade. Às vezes o que acontece não me faz sentido, busco inocentemente os porquês lineares sendo que a vida de linear não tem nada. Do começo ao fim tento aprender e aceitar a força de cada fortuna. Mas sinto que lá na frente, aconteça o que tiver de acontecer, as peças se encaixam, sempre.

Porque a colheita chega e a semeadura já foi feita!



quarta-feira, 1 de abril de 2015

(...)

saudade daquele cabelão, pontas loiras, liso e pesado.
saudade do que foi, e ainda vem...
minha mãe dizia: você vai cair!
e eu não parava até que caia... e só parava no chão.





quinta-feira, 26 de março de 2015

Falta

falta maturidade pra não encanar com coisa pouca
falta prática em ser cordial com as pessoas
falta paciência pra entrar por um ouvido e sair pelo outro
falta inteligência pra não ser transparente demais
falta experiência pra não clicar em: mal, bad, triste, horror, horrível, ódio, loucura, mal

falta tanto ainda

e sobra intensidade no furacão Katrina


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

desabafos

É quinta-feira pré Carnaval e meu coração parece explodir pq não há data no mundo que eu mais espere que não seja a Festa do Momo! não tô conseguindo me concentrar, nem trabalhar. Não haverá viagem mega especial, mas Carnaval é coisa séria e aonde quer que eu esteja faço de tudo pra ser melhor que todos!

mas...

..tem sempre um mas e parece que não podemos mesmo nos planejar pq num clique muda tudo.
e eu que me dediquei, fui sincera e verdadeira, fui gente boa, dei casa, colo e carinho recebi em troca algo que não esperava. Agora fica o gosto da decepção pra ser diluído.

sempre
sempre
sempre
isso

gostaria muito de entender porque as pessoas mentem. Pra mim a mentira é a pior coisa do mundo, pq vc faz uma pessoa acreditar numa coisa que sabe que não é verdade. não tenho vontade de ter contato, de falar, de nada, nada, nada. apenas desprezo e cuidado comigo pra não envergar de ódio no meu feriado mais amado.

amenizando estou (tentando)

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dias tristes

(...) Lembro de serem preparados em duas cozinhas simples, mas tinha sempre um ovinho mexido no café da manhã. Cada dia a receita era feita de um jeito diferente. Às vezes só temperos, outras com queijo misturado, ou só com cebola. Era um café da manhã humilde, mas desgustado com muito amor. Fossem dias de chuva, sol a pino ou em temperatura ambiente. Em prato de plástico eram servidos os ovos mexidos quentinhos. Que era uma forma de acolhida e sentir o coração do outro perto de mim. Antes do trabalho, da reunião, do passeio na praça, do banho no banheiro sem boxe. Agora na cozinha ampla e bonita não tem mais ovo. Não tem mais tempero, nem tomate de acompanhento. Não tem mais a companhia de outrora. Tem solidão, um ovo sem gosto e pra completar algumas lágrimas. Pra não esquecer que a vida também é feita de dias tristes. (...)