quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Até a última gota, até o último segundo

O plano era discutir textos, palavras e narrativas, mas quando dei por mim, estava eu tomando cachacinha de manga na janela, ele já a par dos meus últimos acontecimentos e eu os dele. a vida como ela é, né? sinceridade máxima, que eu não sou de regular informação, adoro quem se conecta comigo e não para de falar, essa coisa maravilhosa de quem tem pra trocar, sabe?

Dai que rolou o macarrão, é claro que botei Elis e Rita pra rodar e em troca ouvi uns sons latinos. A troca aí novamente. O apê uma graça, localizado no Vale do Anhagabaú, eu ali vendo a bandeira do Brasil enorme, ventava o vento das noites quentes de verão Paulista e há muito que eu não sentia essa quentura aqui pelos lados da Paulicéia. A felicidade que me dá nessa época do ano é algo singular; Primeiro porque só visto meus vestidos, sandalinha, cabelo preso, e sinto que as pessoas ficam mais abertas para as amizades, para o amor e para os encontros. O verão, é sem dúvida, a estação mais bonita do ano! Segundo que é maravilhoso poder trocar ideia tomando uma cerveja e olhando o céu piscante de estrela antecedendo que mais um hot day virá pela frente.

A noite seguia despretensiosa, sem ansiedade, sem aquele ar tosco de quando um cara faz questão de deixar explícito por qual motivo você está ali. É por isso que eu amo o povo de humanas: mais vale um amigo pra vida do que um crush voando. Entre um gole de cachacinha, a parede riscada de poesia, o quadro, o tapete, valei-me que calor! E ali a troca continuava a rolar sutilmente. Ganhei gibis pra minha coleção de materiais pras crianças, descobri uns livros, ai ai ai! Mas precisava? Precisava sim, sou merecedora de todos esses encontros. Mas às vezes a vida ganha um ritmo, sou presenteada com uns dias que me vejo numa série do Netflix.

Brisas e risadas à parte, a vista pro centro de São Paulo sempre vinha à tona. Ensaiei vários começos de textos na minha cabeça, "o cheiro da fornada de pães dava o tom em meio à pegação", "A pinta do lado esquerdo em cima da boca é a coisa mais fofa que vi nos últimos dias", "No centro de São Paulo a noite avança quente enquanto eu conheço um pouco dessa pessoa maluca que há duas semanas eu não sabia nem o nome (Só o sobrenome rs)".

Até então eu não sabia muito bem o que estava acontecendo e amo quando isso acontece, porque haja saco pra vida pré estabelecida, né? Então que fosse o que tivesse de ser. E foi: assim perfeitinho, do nosso jeitão, acredito muito em troca de energia e pude navegar naqueles mares de olhos semi puxados e sorriso rasgado. Conexão é assim ou você tem ou não tem. E ali teve! Agradecida.

Entre um puxão aqui e um suspiro acolá, uma declaração aqui, uma palhaçada lá, entre cinzeiros voadores, sentá lá cláudia, o que mais me deixa feliz é a possibilidade de viver tudo isso assim sem mais nem menos, pq quem diria que ali no forró dos meus amigos, eu naquela alegria incontida, jornalistona que só grava sobrenome, muda nome do face, perde-se e haja mais um desencontro, mas é muito da fisionomista, graças a deus, que ainda de quebra ganha um colar-amuleto, euzinha, ali deitada na caminha da sala. Qual o quê?

A vida é bela demais! e de quebra ainda passei pela Catedral de Santo Antônio num sol de 37° graus em Osasco só pra finalizar o rolê com chave de ouro, só pra agradecer todo o perrengue, toda a lágrima, toda a alegria, toda a coragem, toda a alegria, tudo tudo, agradecer tudo, a vida minha, a dos meus pais, a dos meu amigos, agradecer pelos meus sonhos. pelo meus planos, agradecer pelo distanciamento de quem já não me faz diferença, agradecer quem chega e quem vai, agradecer a sorte de ter consciência da raridade que é viver em paz e em harmonia com quem eu sou! Agradeci ali, sentadinha, bonitinha, na Igreja que já me acolheu tantos e tantos anos.

A vida sem rumo é a melhor vida que se pode ter!
2016 escaldante
2016 frustrante
2016 emocionante
2016 ridicularmente conservador e golpista ( FORA TEMER!)
2016 arrombante
2016 bilíngue
2016 tretas
2016 amante
2016 atualizante
2016 amigável
2016 que ano! vai, que já deu, mas até teu último segundo eu deixo você ser quem você pretende ser, sendo!

Haja vida!
Haja amor
Haja fôlego


sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Rescaldo RJ

                                                     I ragazzi su una bella giornata  


Ainda reverbera em mim a última temporada no Rio, que dias! conheci uma penca de gente, falei inglês, espanhol e italiano, me joguei, me permiti, dancei, me queimei, me declarei de vez pra cidade, que se deus quiser me acolherá daqui a poucos meses.

ainda não acredito que subi o morro do vidigal  à pé acompanha por 3 italianos, com um tenis todo acabado. foi uma aventura, foi demais! agora, quando subo o morro das quengas, popularmente conhecido o lugar cujo meu pai mora, eu não sinto mais nada. antes eu reclamava muito, agora eu sei qq é morro de verdade, meo deo.

queria virar o ano lá? queria!
queria ver queima de fogox em Copa? orra se queria

mas também estou felizinha que vou fazer uma festinha de Natal com a família, sei lá, esse ano me animei!
e vou virar o ano acompanhada de uma super amiga que se mostrou bem foda em 2016 e sobreviveu e fortaleceu a lavareira desse ano. retorno de saturno mandou avisar: quem foi, foi, quem ficou, ficou!

passarei o reveilão inteirinha de lairanja, vou reenergizar tudo!
2017 será meu ano, néam? tem que começar daquele jeito!

Benjamin está uma coisa de louco. fofo, lindo, gostoso, inteligente. hj cedo regamos as plantas, lavamos a caixinha de aparelho, tomamos água, ele super feliz com o simples chinelo que dei de presente de Natal, hahaah criança é foda! eu amo demais esse moleque.

além de ouvir Elis Regina alucinada, agora tbm dei pra ouvir Rita Lee, tudo por causa de sua autobiografia, que me fisgou de um jeito sem igual.

os leoninos continuam causani nesta vidinha. mas com o meu coraçãozin continua tudo em pax, graças a deus. Os italianos eram realmente uns lindos, mas muito novinhos. quem sabe não vira uma amizade e parte Brasil pra Itália em 2017? mas já pensou? o idioma é muito muito bonito, eu faria essa viagem com certeza absoluta.

no último forró dos ratos, eu cheia de emoção no peito, não aguentei e caí em lágrimas. eu tava precisando mesmo chorar, mas né? não precisava ser ali, não precisava cair minhas purpurinas da cara, afff, as vezes ser pisciana me dói um pouco. nisso, eu que venho fazendo amigos tão fácil como respirar, tinha feito mais um no forró. um fofo. ele me viu triste, tirou o colar que usava, colocou em mim e disse: isso é pra alegrar vc. resultado? chorei mais. affff

ontem, no butantã, eu ostentava a brusinha do forró dos ratos, um projeto lindo de uns amigos meus, e 3 pessoas me perguntaram aonde era! fiquei mega feliz, vou fazer um barulho enorme com isso ano que vem!

com o bronzeado do Río, eu torrei igual louca e apesar de ardida minha cor tá de lascar!
um cara visívelmente gay, muito do legal, me disse na rua: "Nossa, mas vc tá com um ar de praia, hein?" ai eu expliquei que voltei há pouco da cidade maravilhosa e ele disse: "Você tem cara de Rio de Janeiro, mesmo", os pelos do meu braço arrepiaram; uma amiga tbm me disse isso esses dias, fora todos os cariocax que me dizem que sou claramente uma carioca da gema.

ai que amor!

não vejo a hora de morar logo de vez lá!
serei feliz para caralho!




















sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Aviso aos Navegantes

                                amo amo amo amo amo amo 


Foi assim ó: depois que eu assisti o filme da Elis Regina eu me (re) apaixonei por ela tudo de novo. Eu cresci ouvindo Elis, águas de março, adolescente rebelde que ouvia como nossos pais etc e tal. ai enjoei porque ouvi muito, muito! A ladeira da preguiça, alô alô marciano. Sempre soube que Elis é pisciana, e isso me deixava ainda mais fã dela rs.

Só que ai voltei da Inglaterra frenética, querendo abraçar o mundo, abraçar todos, cheia de planos, retorno de saturno bombani, esse rolo todo que é viver de volta no país depois de 6 meses longe. (Jamais imaginei)

Dai eu fui ver o filme e fiquei ligada na Elis. Pelo gênio forte (olar), pela garra, pela segurança e coragem de chegar e botar tudo às claras, pela intensidade de se jogar no amor e casar com o cara mais filho da puta do Rio de Janeiro dos anos 70. Bôscoli pegava Nara, pegava Maysa mas casou com quem? pois é, com dona Elis. Isso porque se odiavam, né? Me identifico com esse jeitão de ir mostrar à que veio e como veio e porque veio, sabe?

Comecei a fuçar as músicas, reouvir as músicas, reinterpretar as letras, uma coisa. adoro! Elis é demais, amo/sou! haja paciência pra tanto julgamento, néam? Que mulher, que mulher!

                                                       (meu disco. ninguém sai.

E ai nessas andanças da vida, no meio de gente que eu nem imaginava, numa cidade longe pra cacete, eis que surge você, com toda sua pompa, toda sua maestria, se achando afffff que saco! me irrita só de lembrar. Surgiu assim segura de si, como eu quase não gosto, como eu quase nem ligo e nem gamo, aham cláudia. Do nada, entre cervejas e aquela pizza deliciosa, você me mostrou o disco da minha musa! O disco que, no caso, ela aparece com uma máscara de Carnaval no rosto! morri e gamei, né, amor? Tal e qual a cantora! ai como amo Elis.

Até acho que isso é fogo de palha, cê sabe, eu ando meio "doidinha", não é assim que você me chama? "Brasil sua doidinha".

Pois bem.

Lá estava eu novamente deitadinha, aninhadinha no seu sofá rs. É apenas maravilhoso quando isso acontece e eu sou dada à intensidade mesmo! é fogo, e queima mermo! essa raça de leões, a astróloga já tinha me dito que não era pra eu me meter (de novo) com vocês, que no meu mapa não tem nadinha nadinha em leão, não sou obrigada!

Mas quem é que ouve os astros, quem é que ouve horóscopo, quem liga pra signo quando a ligação corporal é perfeita? quando a sintonia é assim... perfeita? Agora haja coração, haja peixes, haja água pra apagar tudo isso.

Aí quando eu achei que não passava de uma brisinha dessas passageiras, tava eu lá de novo enrolada na almofada branca depois de ter (de novo) comido a nossa pizza. Ai vem você, novamente, tal e qual o Simba, arrasa quarteirão, e diz:

- Já pode começar a discoteca?
- Pode!  (eu esperando um sambão partido alto conforme fora combinado).

E aí tocou Velha Roupa Colorida e eu fiquei sem ar, virei o copo de coca cola, olhei a vitrola, olhei você, suspirei, meu olho encheu d'água, tomei um ar, pensei "fodeu! agora danou-se" (tudo isso em menos de um minuto), eu já sabia né? Enquanto Elis gritava: "No presente a mente, o corpo é diferente / E o passado é uma roupa que não nos serve mais" e você me olhava como se dissesse: É Brasil, por essa você não esperava, né?

Que jogo baixo!
Queria me ganhar?
ganhou. foi nesse momento aí, eu gosto de deixar tudo às claras. não sou dos jogos, não!

E como todo bom predador, do peixinho que eu estava sendo, nadando feliz por aí, virei foi tubarão! Leão domina, mas peixe escorrega, né?
Explosão
Aceleração
Conexão

eu acho que poderia beijar você umas 24 horas seguidas, porque olha, que beijo bom sabe? viajo...

E ainda que nada disso dê em alguma coisa, e ainda que a gente nunca mais se pegue, o que vale é saber que sou capaz de sentir tudo isso, de viver tudo isso, de ficar dormindo na tua cama sozinha e ver você toda gata indo trabalhar, com seus 2 metros de altura e sedução. Ah eu tô na sua sim, ai como eu tô na sua! (agora).

Vou é pro Rio de Janeiro refrescar minha cabeça, nadar por outros mares, mas eu bem me conheço e quando eu pego gosto n'água, eu volto, meu bem! e se me deixar nadar, eu mergulho fundo, viu?


apenas obrigada.

Ah:

(Esse ano vai sobrar um, quem falou já morreu, quem sabe dele sou eu, a vida quem dá é Deus)

Aviso aos navegantes:
apaixonada.
por
você


terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Plugue

veja se eu tenho tempo pra discutir por causa de tomada

Já faz um tempão que eu batalho pra ter um espaço só meu. Morar sozinha na Vila Sônia me mostrou como a vida pode ser linda morando numa casa com quintal, garagem e um quarto grande. Foram tempos muito felizes. Ai veio o passaralho, a crise, os freelas e eu voltei a dividir a casa com a família. Que desgaste!

Passado um dos maiores perrengues dessa vida, parti pra Inglaterra e dividi a casa com o namorado. Foi delícia, foi aprendizado. Os meses em UK chegaram ao fim e voltei pro Brasil, novamente pra casa de familiares, só que agora num quartinho delícia no fundo da casa.

Arrumei tudo, botei meus quadros na parede, as prateleiras, empilhei os livros, uma graça, apesar de pequeno, apesar de eu ainda não me achar completamente. Só um porém: a casa é dividida com familiares, os quais têm a chave do meu quarto. Até aí tudo bem! Tô ali no fundinho, quero nem saber de treta.

Mas como nada é perfeito, minha tia, que adora ajudar e é muito da caprichosa, deu pra tirar todas as minhas coisas da tomada. Isso, tirar do plugue, o que me deixa irada levando em consideração que o modem da Net demora 15 minutos para ligar. "Por favor, iniciando, aguarde". Ai que saco!

Chego cansada, vinda dos freelas, recém chegada da vida, querendo ouvir um barulho de notícias nos meus ouvidos, e tenho que esperar 15 minutos a caceta do modem ligar, porque segundo tia Di, corre o risco de incêndio. Ai ai ai.... Um mês nisso, eu já irritada e cansada, eu, Nathália a grossa, Nathy a barraqueira, Katharine insensível, Catarina, a fera, eu, que não queria treta com nada, pedi humildemente para o meu pai avisá-la que isso estava me incomodando. (Nada como repassar um recado sem que isso gere briga, não é mesmo?) Nada! Meu pai a tem como segunda mãe e ignorou meu pedido. 

Deixei um recadinho grudado na parede: Não mexer nessa tomada! s2

ignorada novamente.

Hunf!

Ontem, o quarto carnavalesco, coisa tudo jogada, as purpurina, as fantasia, tudo revirado, sai e tranquei a porta, como quem diz: viu, não é pra se enfiar aqui e relar em nada.

Aham! 

Cheguei morta e esbaforida às 23h30 e adivnhem? exatamente, a porra da tomada desplugada, o modem da Net está sendo iniciado, senhora, paciência.

Parti pro banho, cruzei com meu pai, falei pra ir lá falar logo com ela pq ia dar merda. (No caso, achei que tia Di estivesse dormindo). Chuta quem surgiu de pijaminha?

Disse que eu deixo tudo ligado, que vai explodir, que vai pegar fogo. Nisso, eu já emputecida, pq como assim a pessoa não consegue entender que ali é meu espaço? Falei: Ok, vou tirar as coisas da tomada e deixar só o modem da merda da Net ligado, ok? 

Tia Di ficou puta, disse que "tava demorando pra dar encrenca", que "sou má agradecida e que ela me trata com muito carinho". A parte que ali é MEU espaço foi ignorada novamente. Ai que clima mais chato, falei pra sair do meu quarto, mandei vazar, fechei a porta. Meu pai não emitiu um piu sequer.

Eu só mentalizando o Rio de Janeiro.

Tia Di mandou recado no whats e ainda assim acha e crê que tem razão, que sou eu quem não sabe conversar. Hajahahhahahahhahahaha

ai família, ai como é chato morar aos 30 anos compartilhando casa com idosos. Consultei Isa que disse que pode ser sinal de toque. 

Rí muito mas segue o clima de velório na casona.

Ah segue a vida, né?
Ano que vem, se Deus quiser, não estarei lá mermo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

À flor da pele




Ninguém me entende. Depois que voltei da Inglaterra haja julgamentos em cima de mim.
É nega que diz pelas costas que "tô a mais no rolê", que minha alegria tá insuportável, é nego que mete o pau em mim por causa da minha exposição no Facebook, é gente que bate, mas na hora H não dá um real, não me ajuda, não faz bosta nenhuma, é só julgamento atrás de julgamento. Justo esse tipo de gente que paga amor no Facebook, gente ardiloso, quase uma cobra. Pena que esses esquecem que sou nascida e criada no Butantã!

Só que agora eu tô tão à flor da pele, tão no amor, tão na vida, que caguei com força pra essa galera, sacoã? fodase! a dor da punhalada pelas costas dói pra caralho, mas retorno de saturno não tá com brincadeira e rolou a lavadeira: quem tá, tá, quem não tá, não tá. DE VERDADE.

eu tirei todos os nós da minha vida pq nao sou obrigada. até pq a vida é bela, né?
tá fácil? não, não tá!
mas vai ficar
vai melhorar
o universo vai me ajudar.

eu sei quem eu sou
eu sei (agora) quem tá comigo
eu sei (now!) com quem eu posso contar

e o resto: foda-se.

eu ando à flor da pele mesmo, idaí?
eu me emociono com o funcionário do Subway, que do alto de seus 18 anos, corta o pão com felicidade, pq eu tô vendo uma alegria alí.
eu fico emocionada quando uma criança se aproxima de mim
eu fico feliz pq passei  num curso que eu quero fazer há 5 anos

eu "fico a mais" pq eu me banco, pq sou segura de mim e do meu corpo, pq nao to nem aí de verdade pra gente que vem cagar regra pra mim. Só que é o seguinte: vai cagar regra caga direito, caga direto, vem cá, pega no meu braço e dá teu papo. Não vem falar por trás pq fica feio e veja só, eu como jornalista, as notícias sempre me chegam. e sem querer. pq posso ser ingênua e burra, mas trouxa não sou não!

dizem por aí que minha felicidade é insuportável, "Oh really?"
dizem que não evolui, que só penso em Carnaval "you sure?"

qual o problema de pensar em Carnaval?
sou corpo, alma e coração de Carnaval, mesmo! Nasci nessa data, amor, meus 30 anos serão comemorados na Estação Primeira de Mangueira, com licença?

o que você acha de mim é apenas problema teu!
mas me deixa
quer agora pra mim você acadou.
ja era


como diz Martinália:
Prá você é o fim da estrada
Com você fechei a tampa
Da minha casa
Dos meus amigos
Chega!
Ainda mais agora
Que eu "vou viajei"
E me livrei de você
Não quero mais ser seu amigo
Nem inimigo
Nada!...


o foco é, e sempre foi: sinceridade, bondade, amor, descontrole, gargalhada.
gente sem amor, sem luz, gente que não goza, ou que tá com cicatriz da vida: não sou obrigada!


ps: agora me aguenta, pq tô insuportável, mas agora eu tô insuportável de propósito.

haja vida
haja mar!







quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Não esquecer:

Para ser grande: sê inteiro
Nada teu exagera ou exclui
ser todo em cada coisa,
põe quanto és no mínimo que fazes.
assim em cada lago a lua brilha
porque alta vive



terça-feira, 22 de novembro de 2016

A menina que não podia ser ela mesma




A Menina que Não Podia ser Ela Mesma era muito feliz!  Cantava, falava com as pessoas na rua, gesticulava, ouvia música, sorria, brincava. Mas a menina que não podia ser ela mesma já tinha ouvido diversas vezes que seu jeito era errado. Ouviu que ela falava demais, gesticulava demais, sorria demais, era amiga demais, gritava demais, aonde já se viu ser demais, nesse mundo que quer menos?

E ela não entedia muito bem essas críticas, que muitas vezes vinham embrulhadas como bons conselhos, surgiam como bombons estragados, e que murchavam seu coração, pois, ora, como podia ser melhor fingir ser infeliz ou fingir ser uma pessoa que não era, somente para agradar os outros? Mais: somente para agradar regrinhas de sociedade?

A Menina que não podia ser ela mesma tentava, tentava, tentava, era de um esforço fora do comum. Decidida, atingia sempre os objetivos propostos, conquistava pessoas, mas era analisada, e muitas vezes diminuída pelo seu jeito de ser.

Sorrir não podia, brincar não podia, ficar amiga não podia, parecia que o que as pessoas queriam dela era uma infelicidade velada, uma seriedade fake, um ar de intelectualóide que por vezes ela não tinha, e, ingênua, dizia que não sabia. E era julgada por não saber, era julgada pelas roupas as quais usava, era julgada pelos gritos que dava, era julgada pela intensidade que tinha, era julgada por economizar dinheiro, era julgada por ter uma opnião diferente da dos outros, era julgada por fazer o que tinha vontade sem se preocupar com as consequências, era julgada por não ser ponderada e por viver à flor da pele.

Por muitas vezes, A Menina que não podia ser ela mesma chegava feliz aos lugares e logo levava uma frase ríspida na contramão sem nem saber ao menos porque aquilo estava acontecendo. Talvez, seu maior erro fosse acreditar que as pessoas fossem sempre boas e e esquecer que essas mesmas pessoas também são compostas por falsidade, inveja e ciúme.

Mas em situações em que ela levava um fora sem nem saber o motivo, o alerta amarelo piscava fundo em sua cabeça ao mesmo tempo em que seu coração diminuia e seus olhos enchiam de lágrimas. E aí ela chorava. Chorava por não entender o que essas pessoas queriam, chorava por se sentir esquisita e diferente, mas diferente e diminuída, diferente e excluída. Chorava porque para ela não havia decepção maior do que a de a traição de um amigo.

A Menina que não podia ser ela mesma um dia perdeu um amigo, ele morreu e ela não soube o motivo. E ela não pode se despedir desse amigo no velório ou no enterro, porque ela estava em outro continente. E então ela fez questão de estreitar seus laços, agradecer a todos por estarem vivos, dar bom dia para todos, sorrir, ser gentil, ser amorosa. Ela só queria ser ela mesma, mas os espinhos sempre perfuravam seu coração e necessitava muitos curativos para sará-los.

Até que um dia, A Menina que não podia ser ela mesma, se aproximou das crianças, dos cachorros e das plantas, porque ela sabia que com criança, cachorro e planta não tinha essa de vaidade, ego, ciúme e inveja. Só tinha amor. Ela sabia que a criança não sera falsa porque ela não tem malícia e isso é coisa de adulto. Tãopouco um cão será falso, pois cachorro não tem orgulho. As plantas quando sentem a energia ruim, murcham ou morrem, só vivem e florescem em um ambiente do bem.

Então A Menina que não podia ser ela mesma aprendeu que os seres humanos são esquisitos, e que com gente esquisita e de energia pesada a gente deve se distanciar.

Foi morar em uma cidade que tinha o mar como janela. O reverenciava todas as manhãs ainda que essas fossem de chuva. Se apegou ao que não tem valor e não se compra: viver sempre, todos os dias, da melhor maneira possível, sem dar moral à quem não lhe merecia.

Porque nessa vida nada se leva, e ela, A Menina que não podia ser ela mesma, sabia que não havia outra maneira de existir sem ser ela mesma, inteirinha: risonha, feliz, autêntica, chorona, ingênua e pura.

E assim foi indo até que todas as pessoas que a julgavam foram sumindo e dando espaço para novas pessoas, novas histórias, novas amizades e novos ciclos de amor.

domingo, 20 de novembro de 2016

FDS mucho loco

Toda vez é assim: é difícil voltar pra SP e engrenar a rotina daqui com resquícios fortíssimos do Rio de Janeiro em mim. mas tudo bem.

O FDS começou com questões burocráticas pelo desejo de me jogar de vez na educação. Maravilhoso, mas cansativo. Autentica documento, vai no correio, tira xérox, volta. Acabou que já era 13h e eu nem tinha comido nada.

Depois de toda a papelada autenticada, parti pra Santa Cecília atrás duma camiseta linda demais da marca "Liquidificador de Cor", que conheci quando ainda estava na Inglaterra. A marca é linda e produzida por uma simpatia de pessoa que atende pelo nome de Bárbara.

Chego no apartamento e dou de cara com uma gaúcha que fala cantado. Quase morri.

Camiseta em mãos, segui pra Paulista, que era dia de encontrar Sidão e Giu. Antes, dei de cara com o Banespão que me deu logo o papo reto de que se quero ir embora, era pra ir logo. Aff.

Meu celular está descontrolado após o aguaceiro no Rio. Molhou, eu taquei ele no arroz, mas booom, booom, não tá não. Entrei num boteco na Augusta pra carregar o que restou do meu telemóvel.

Com Sidão e Giu tudo igual, a gente só fala besteira, eu gargalho, Giu divide as brejas comigo, enquanto que Salomoni vai bebericando seu suco. Ai como é bom voltar e rever meus amigos!

Eu já exausta, mas ainda elétrica, deve ser o retorno de saturno que tá bombani.

Deveria seguir rumo minha cama, mas advinha?
Fiz um pit stop no Butantã, fui atrás da Guaci, maravilhosa, sambista.
Mais amor.

Acabou que perdi o último "Shopping Continental" e fui dormir na casa da sambista, que mora apenas em frente à Praça Elis Regina.

Capotei ansiosa, pq sábado era dia de chábaile da Agnes.
Corta.

CháBaile da Agnes, minha mãe no rolê, mais um amigo que desemboca no Brasil após 2 anos de viagem, o baile solto, a alegria, e eu, como sempre, não caibo em mim. Falei com todos como se a casa fosse minha. Do alto do descontrole, peguei minha purpurina, meus óculos de coração e abri a ala do #Carnaval2017.  Pintei geral. Quem eu conhecia, quem eu não conhecia, quem queria, quem não queria. Pintei sim e se reclamar vou pintar de novo!

Não há nada como uma festa em que as pessoas estão purpurinadas, é um realce, sabe?

Ai ai que emoção.

Eu acho que caiu minha ficha realmente de como a vida é bela, ainda com todos os problemas, ainda com tudo, é bela sim.

Hj foi dia de estudar inglês com o professor que virou meu amigo, e que, além do Sidnei, é o único brasileiro que esteve na minha casa lá em Peterborough, que foi ASDA, que conheceu Hebe, a senhora que trabalhava no supermecado, ai ai ai...

é tanta vida, é tanta luz e emoção que parece que a Inglaterra foi um sonho distante.
Mas não foi, porque a viagem foi tão maravilhosa que colho os frutos dela agora!

Muito amor e gratidão, viu?


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

A Saga da Estudantina ou A Pequeneza Humana

Morta com farofa, acordei no Leblon e segui sentido Barra logo às 8h da madrugada. Os olhos com resquícios da noite anterior. Precisava dormir.

Advinha? Dentro do ônibus era o sol que saia depois de 4 dias initerruptos de chuva. Dormir pra quê, eu vou é pra praia! Não há nada como o mar, mas o mar da Barra é tipo aquele cara marrento da turma. não tá pra brincadeira. Deitei no sol e torrei como se não houvesse amanhã.

Me despedi da brancura herdada da Inglaterra, comparei a areia branca nossa com a areia preta deles. O mar do Rio de Janeiro é sempre um remédio pra qualquer mal, cura tudo. E eu muito cansada, precisava e deveria dormir. Só que é tudo ao contrário e eu engatei a primeira marcha e segui o dia.

Meu plano era pegar a praia até o sol se por e ir dormir pra no outro dia voltar pra São Paulo.
Qualoquê.

Isadora me manda mensagem me agitando e eu dizendo que não tinha condições nem físicas e nem financeiras pra ir em algum lugar. "Mas eu te pago," cutucou a escorpiana. Óbvio que aceitei a propoxta e comecei a armar mais um rolê. Estudantina na Lapa, forró clássico, forró carioca, vamo ver qualé.

Meu corpo ardia reclamando de toda a exposição ao sol, mas sabe que nem liguei, me besuntei de creme, peguei minhas malax e parti sentido Lapa. É o coração que começava a pulsar.

Porque nessa viagem eu achei que tinha sido curada pela tórrida paixão por Lapa e suas adjacências, tanto é que nem fiquei triste de não ir pra lá. Mas quando é pra ser, é e pronto. No meio do caminho fui orientada a pegar o famoso "433", ou para os íntimos, o "quato teix teix", melhor busão do mundo que vai sentido Lapa e Santa Teresa; Ai meu deus, lá vou eu! até foto do ônibus tirei, aprendi na Inglaterra que turista bom é turista que tira foto de cada canto.

Pois bem.

Saltei nos arcos da Lapa e fui conversando ali com meu bairro que eu estava mortinha de saudades; Eu sou dessas que conversa com os lugares. Tirei foto dos arcos, sentei num botequim pra esperar a Isa, senti novamente a necessidade daquilo ser uma coisa normal, porque quando eu sento num bar em Pinheiros pra esperar alguém eu não sinto nada especial. Especial em São Paulo é quando eu vou no Santo Forte e arrebento meu pé de tanto dançar, mas entre os afazeres normais, em SP tá tudo meio OK. E essa sensação de pertencimento, essa ligação, eu sei lá como explicar isso, mas eu quero muito ter a experiência de morar lá.

Isa chegou toda linda, magrinha, cabelão. Maravilhosa, adoro ter amigas gatas.

Paramos pra tomar um caldo e nos agilizamos pra partir pro Estudantina.
Chegando lá começa o descontrole:

(O combinado era que a Isa fizesse meu rolê pq eu estava dura, lembram?)

A portaria do Estudantina só aceitava dinheiro.
Isa só tinha cartão.
Eu tinha uns trocados pra pegar o busão sentido rodoviária.

E agora?

Paramos na Praça Tiradentes pra consultar os taxistas sobre o que fazer. Ai disseram que sairia
R$ 20,00 pra ir até um 24 horas. Ai ai ai. Haja saco!Carioca adora dar caô em turixta, mas aqui não violão.

Isa disse que tinha tido uma ideia e eu segui de mala e cuia pra porta do rolê pra esperá-la.
Volta ela com dinheiro de um trambique que fez num bar.

Na porta do Estudantina pela segunda vez:
- Agora já passou das 23h, é 20,00 cada uma.
- Quanto você tem ai, Isa?
- Ai só tenho 30 (antes das 23h cada uma pagaria R$ 15,00).
- Ai não acredito! ai moça ajuda a gent...
- Não posso.

Eu irritada já maldizendo aquela merda, comecei a juntar todas as minhas moedas.
Faltava 2 reaix.
Ia pedir emprestado quando um moço atrás da fila se compadeceu e nos deu a grana.

Afff
Bora? Então bora!

Eu, com 3 malas, toda feliz ouvindo a zabumba do meu coração, cheguei ao guarda volumes:
- Oi eu quero deixar essas 3 malas
- Aqui é só com dinheiro moça

Nos entreolhamos e cai na gargalhada.
Não pode ser. E agora?

Peguei todas as malas e muito brava, mas decidida a curtir minha noite, ia caçar um espaço no salão.
Eis que surge um moreno:
- Eu ouvi a história de vocês, toma aqui o dinheiro.
- Ai brigada moço, vamo logo, Isa.

Cabeça de feminista pensa assim:
Só falta esse cara encher meu saco por causa da grana. Se vier com graça vou pagar a cerveja dele e mandar ele passear.

Nisso, a moça do guarda volumes vira do alto de seu grande cargo dentro da noite carioca, arrogantíssima:
- Já separou tudo, pq vc sabe que nao pode mais pegar as coisas, né?
- Já peguei, tchau.

Isa me olha como quem diz: mas gente que porra é essa?
E eu mandei: Filha, a pequenesa humana é algo muito do tosco. A grande emoção da moça é mandar e desmandar daquele espaço ali. Vambora pra vida, vambora dançar!

Gargalhadas infinitas.
Volta e meia a gente lembrava disso e começava a rir.

O forró rolou perfeitamente.
Depois que cheguei da Inglaterra foi meu primeiro show ao vivo. Eu sabia muito do repertório, e segura, comecei a tirar os cariocax pra dançar. Foi muito massa!

O local é antigo, tem um clima maravilhoso e de quebra uma varanda aonde é possível sentir o vento da Cinelândia bater em nossos rostos.

É amor demais, Ridijanêro!


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Tinindo Trincando


Em 1 mês de terra Brasilis:


Inventei um lindo Carnaval fora de época;
Revelei fotos
Fiquei loira
Emagreci
Criei um projeto 
Conheci crianças novas
Lí a Bíblia
Criei laços
Revi amigos
Fiz uns novos
Chorei largada
Gargalhei alto
Gritei
Comprei purpurina
Distribuí presentes
Montei um novo quarto
Botei meus quadros na parede
Criei um novo blog, uma nova conta no Insta e no Youtube
Comprei brinquedos
Comprei um moisés
Dei banho na Diná
Fiz faxina na Margá
Comprei uma saladeira
Comecei a dieta
Inventei chás
Zerei o jogo
Comecei um novo trabalho voluntário
Recebi um convite de casamento maravilhoso
Fiz bolo pra um bebê que vai chegar
Comi pão de queijo, pizza, coxinha, risóli. (comida de verdade!)
Subi num trio elétrico
Dei beijo no Tutu
Conheci um parisiense
Arrumei um freela
Divulguei 
Reencontrei a melhor cidade desse mundo inteiro
Tomei banho de mar
Subi meu morro
Sambei em Madureira
Sambei no Andaraí
Sambei na Lapa
Forroziei na Cinelândia
Agradeci cada segundo
Tomei banho no banheiro mais diferente que já conheci

E vai ter gente que vai dizer que "foi só um mês". 
Prefiro dizer que foi só o começo.


1 mês e a vida segue em movimento, sempre!
O movimento não para!

(E o retorno de Saturno também não)

terça-feira, 1 de novembro de 2016

A Volta



Depois de um dia mucho loco em Londres, meu último dia cara a cara com Sr. Big Ben, com duas amigas maravilhosas em Canden Town, eu me despedindo em silêncio e agradecendo à Amy por tudo, por cada canto, era meu namorado que chorava de emoção de um lado, e eu que engolia seco de outro. Um trânsito maldito (era sexta à noite na capital do mundo), um rolo eterno para entrar no aeroporto, a ajuda de velhinhos voluntários, eu chorando de medo de perder o avião, 11 horas com o joelho latejando, e enfim, São Paulo, cheguei!

Escrever isso agora é muito fácil, difícil foi ficar uma semana inteira sem dormir direito por motivos de fuso horário, a emoção de bailar meu Santo Forte com duas amigas lindas, a cara inchada de tanto chorar revendo meus amigos num forró, a Diná que não arreda o pé de mim, minha mãe que me faz café, o Benjamin gigante usando aparelho móvel, é tudo, tudo, muito emocionante!

São apenas 2 semanas na minha terrinha, no meu Butantã esquerdista mesmo sem o Haddad, são só duas semanas, mas eu e Sid já nos beliscamos várias vezes pra ter certeza que de tudo isso é verdade. Engatei a primeira marcha e inventei um Carnaval tão lindo, recebi amor, comidinhas e músicas especiais, eu sou pisciana minha gente, não é fácil não!

E agora, agora sim, meu quarto novo, meu bairro velho, os ônibus, as filas, o trânsito (saudade zero!). Agora sim a vida vai entrando nos eixos, eu half journalist, half Nanny, eu com saudade de todas as crianças da Little Miracles, aquele lugar tão especial pra mim que agora parece tão distante, agora eu me reinventando novamente, explicando que vou ser sim uma Babá Alternativa, folguista, brincante. Agora eu sei que é ao lado das crianças que eu me conecto comigo mesma.

Algumas pessoas me dizem: "Mas Nathy, você mudou muito". É, eu mudei, mas mudei pra melhor, eu agradeço todo santo dia pelos meus amigos, pela minha família, pela minha vida, meu trabalho e principalmente pela coragem e alegria que tenho dentro de mim. É verdade também, que andei esquisita no ano passado, mas agora sim! Agora é Nathália com intensidade e gargalhando. É Carnaval que chega, meu bem!

O que dizer do último domingo que subi num trio elétrico e me declarei pro Tutu?

Eu ainda não sei muito bem explicar o que aconteceu desde o meu último dia em London, mas eu sinto como se fosse um renascimento. Rever pessoas, revisitar lugares, cada novo dia é uma nova oportunidade pra tentar ser feliz. Talvez seja o maior clichê que já escrevi nesse blog, mas agora caiu minha ficha de que isso aqui é minha vida, e o que mais importa nessa vida é ser feliz!

***
Diego, aonde quer que você esteja, saiba que muito do que escrevi aqui é para você! Quantas vezes nós dividimos marmita, arrumamos o estoque, fizemos planos, tomamos sorvete e desabafamos um pro outro? Foi muita sorte minha ter conhecido você, pessoa do bem, esforçado e tão sorridente! Foi ainda mais sorte poder te contar que finalmente eu estava na Inglaterra e que era para você se jogar também! As pessoas não morrem, ficam encantadas, e saiba, você ficou encantado pra mim! Muita, muita luz pra você.


A vida segue seu curso, cada um na sua caminhada, viver é algo mágico, e chegou o momento para eu agradecer tudo!

Muito obrigada


quarta-feira, 12 de outubro de 2016

I don't want do say goodbye


Nós 3

Esses últimos dias têm sido esquisitos, permeados por desejos pouco prováveis. Eu tenho vontade de abraçar cada árvore, cada poste dessa cidade, queria sentar no ponto de ônibus e ficar vendo a vida passar como tantas vezes ensaiei e nunca coloquei em prática. Queria subir no topo do Queensgate e gritar: Morei aquiiiiiiiii!!! Obrigada Inglaterraaaaaa!! e à medida que tenho que resolver os pepinos da mudança, esses desejos surgem na minha cabeça e eu fico engasgada.

É muito louca essa sensação, é muito louco morar em outro país! O ingresso do Santo Forte está comprado. A televisão com sinal da NET está tinindo no Jaguaré. Vou resolvendo a vida metade aqui, metade lá, mas pra falar a verdade eu nem sei no que estou sentindo ou passando, é tudo junto AGORA.

Ah Inglaterrinha,
Você é aquela amiga mais rebelde, briguenta, aquela que sempre inventava dar um "gelo" em quem se atrevisse ir contra você; Tal e qual tive em minha adolescência.
Aquela que paga de inatíngivel, mas no fundo tem uma insegurança interna escondida.
Se faz de fria, gelo em pedra, mas por dentro tem um coraçãozão vermelho pulsante feliz por estar sendo conquistada.

Acho qua a grande sacada é essa: A Inglaterra conquistou o mundo todo, mas não sabe se deixar ser conquistada. E eu sei bem disso. Mas enquanto amiga rebelde, agora no fim, (e pelo menos agora!), estamos amigas. Eu já entendendo seu idioma, já sei qual é o seu ritmo, eu sei me virar sozinha aqui ainda que sempre surja uma alegria infinita, talvez meu mais forte resquício de brasileirice, e é então que o balde de gelo vem trincando molhando cada parte me relembrando que aqui eu não apito nada, a gringa aqui sou eu!

Mas que bom Inglaterrinha, que pude conquistar você, sabia?
E olha que eu não tenho muita paciência para conquistas demoradas, mas eu, enquanto pisciana e ser humano, quando faço um plano dou o meu melhor, com capricho, com gosto e conquistar meu espaço na ONG com as crianças e os adultos, isso sem dúvida foi algo que consegui fazer de melhor.

Olho em volta e minha sala, tão aconchegante antes, agora cede espaço para caixas de mudanças. Tudo espalhado. Minha casinha desfeita. Uma vez escrevi um post dizendo que quando eu tivesse uma casa eu agradeceria à ela por tudo, por mais um dia, e falaria bom dia, boa tarde e boa noite para ela que sempre espera eu chegar. Aqui no 10 Grovelands foi assim! Eu agradeci em silêncio tantas vezes, e ainda agradeço, o agradecimento por essa oportunidade tem que ser contínuo!

Não é facil.
Ir embora é uma merda.
chegar é uma maravilha!

Eu tento não florear, eu tento não fazer esses últimos dias como se fossem cenas dos meus seriados favoritos, mas tem hora que não dá.

Salvem o roast dinner!
Salvem um dos mais verdadeiros prazeres que os ingleses têm: comer com fome e com gosto.

a vida é AGORA, intensa, cada dia uma nova página em branco, que bom que o meu entendimento sobre a vida tenha mudado e é aquele clichê mais foda de todos: tem que fazer (tudo) com amor!

Ah Inglaterrinha, e agora que não consigo nem finalizar esse texto?


quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Haja coração

esse quase é que me mata!

Hoje fui mandar parabéns pra uma amiga no Facebook e comecei a chorar. Estava assistindo o Saia Justa e quase beijei a televisão quando vi um cão salsicha na tela. Não é TPM, não é carência. É saudade. Uma saudade grande, funda e boba como até então era desconhecida por mim mesma.

Eu sou ansiosa e corto um dobrado pra dar conta de não me atropelar, sofrer por antecipação etc e tal. Mas ontem o Sidnei chegou em casa chateado, ansioso, deitou no chão e ficou calado pensando na vida. Ele que é adepto do deboísmo, ele que tem o ritmo menos acelerado que o meu. Então bate uma sensação de como se estivéssemos  participando do BBB, e quem já viu o programa sabe como é que o reality fica sem graça nas últimas semanas. Os participantes não aguentam mais, Pedro Bial desce o verbo acelerando a todo momento e comentando a chegada da grande final. E eu me sinto chegando nessa grande final onde cada abraço amigo que eu vou dar vale o meio milhão.

É uma loucura tudo isso. De um lado os novos amigos, o cotidiano simples, as comidas, o chiado do inglês que nem assusta mais, as crianças na ONG me perguntando se vou embora pra sempre. Nunca é fácil dizer adeus. De outro, é mais um vídeo de baile que a gente vê e conta os segundos pra tá junto com o pessoal, é saber que ao desembarcar do avião vai rolar pastel e caldo de cana na feira, é a certeza de poder ver meu Tutu tocar, participar dos aniversários de todos esses meus amigos, é passar no Extra pra comprar cerveja, grudar na Diná até ela entender e sentir que eu voltei. É sentir o cheiro odioso do cigarro da minha mãe e adorar!

 Mas Nathy, ainda faltam 3 semanas, caramba!

Faltam 3 semanas, e é isso que a gente não consegue mais segurar. É uma mistura de saber que a vida vai mudar completamente em pouco tempo, é ter que montar caixa e embalar tudo o que der pra levar, mas pensando o que faremos nos primeiros dias quando chegarmos lá. Como é que vamos enxergar aquela velha São Paulo? Os tempos de crise, o #ForaTemer diário, o desemprego, mas é acima de tudo saber que logo mais estaremos em Terra Brasilis, ah meu país eu te amo demais!

O corpo vai se dividindo. Enquanto faço uma jantinha esperta minha cabeça tá em São Paulo. O outono chegou na Inglaterra e sinto o vento frio quando a noite chega, mas penso que o horário maravilhoso de verão tá chegando lá e mal posso esperar pra usar todos os meus vestidos que ficaram guardados. É quase verão de novo, porra!

 Ainda tem um tempo pela frente e eu tô tentando me segurar, finalizar tudo bem direitinho, firmar o que ainda tem para ser firmado, mas a ficha já vem caindo. E morar fora do país é tão profundo pra nós que essa saudade, essa singularidade toda de se ver fora de uma vida que está quase voltando me deixa sensível. 

Mandei o Feliz Aniversário e comecei a chorar. Um chorinho com sensação de "Tá acabando, segura firme", mas não sem chorar também por "Caralho Inglaterra, mano e agora? Agora que fizemos uma amizade a gente vai se separar, tá?".


quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Eu, Faxineira

                            "o máximo que eu pago é 6 libra a hora, mas minha casa é bem pequena"    


A vida ganha novos significados à medida em que é posta à prova. E eu vim para a Inglaterra decidida a fazer o que tivesse que ser feito para descolar alguns pounds e aprender a falar inglês. Foi assim no trabalho voluntario, foi assim pesquisando links e links na internet sobre colleges e foi assim quando rolou a primeira faxina.

Eu adoro limpar a casa, mas a  parada muda de figura quando você passa a ser responsável pela limpeza da casa dos outros. Esse lance de "ai mas eu fiz faculdade para limpar a privada alheia", já caiu por terra quando bati forte no peito dizendo que seria vendedora de roupas caso precisasse ser. O dinheiro sempre chega quando você se movimenta. Eu não me sinto nem um pouco humilhada em fazer faxina aqui, de verdade mesmo. E como jornalista tem uma parte desse trabalho que é poder viver um pouco a vida daqueles que moram ali. Ao invés de fazer uma matéria, você entra na vida literalmente daquela pessoa, sabendo como ela mora, como guarda as coisas na geladeira, como dorme e como caga.

Essa parte com certeza é a melhor de todo o trabalho pesado que começa logo no começo. De cara, cozinha e banheiro são as partes mais importantes das casas e é justamente onde as "patroas" querem entrar e sentir o cheiro da limpeza, o brilho dos azulejos, as paredes sem gordura e etc. E eu não hesito em trabalhar com perfeição. Mas as minhas costas reclamam no final do dia. E ainda tem a parte que nunca falha de, apesar de não me sentir humilhada, saber que sou parte da máquina da exploração capitalista. Mas é exploração mesmo: no Brasil as faxineiras chegam cedo e saem à tarde e têm tempo para realizar o trabalho. Aqui eles pagam por horas, geralmente 2 horas por dia, as casas são muito grandes, e como a pegada da cidade é outra, tem o agravante da dona da casa acompanhar literalmente a faxina. Então eu tenho 2 horas para limpar cada cômodo de um sobrado enorme com uma mulher no meu pescoço acelerando meus passos. Imagina a vida de quem precisa fazer 4 casas por dia pra no final do mês conseguir pagar o aluguel?

Se o dinheiro vale a pena? Sempre vale ter dinheiro para gastar com o que você quiser, mas pensando friamente, o trabalho das faxineiras é desvalorizado e agora eu entendo quando a minha faxineira lá do Brasil me contava seus causos. É foda.  O filme que Horas ela Volta? vai passando na minha cabeça. O cara te oferece água com um ar de "olha só como eu sou legal", mas não dá uma libra a mais se você ficar 40 minutos a mais finalizando a parada. E tem os mais drásticos que ao badalar das 15h simplesmente pedem pra eu parar aquilo ali e ir embora. Nem mais 10 centavos, nem mais um minuto. Get out. Eu me sinto naquele filme do Chaplin em que ele sai apertando botões sem nem saber mais o que está fazendo.

Como eu disse: a vida ganha um novo significado à medida em que é posta a prova. Eu ali esfregando o rejunte do box na casa de uma família Paquistanesa, e sentindo uma coisa forte de que eu posso fazer o que eu quiser com a minha vida, que sempre vou dar um jeito por mais puxado que seja. Sinto vergonha das tantas vezes em que ao ver que a faxineira tinha acabado de lavar a louça eu pegava um café e "deixava só mais um copinho". Ou em relembrar quantas vezes já ouvi "amanhã a faxineira vai vir então não vou nem tirar esse prato daqui, to pagando mesmo". A exploração é foda porque quem explora às vezes nem se da conta disso e o explorado acha que ele tem a obrigação de lavar 5x a pia se precisar porque, ora, eles está sendo pago para isso. Será? Será que esse lance de vou sair do Brasil e ser faxineira fora porque pelo menos ganharei em Dólar ou Euro vale a pena realmente?

Avanço pro vidro do box e me deparo com um papel grudado com durex: "Cante para Allah enquanto toma banho". Caraca! Quando na minha vida poderia imaginar que estaria vivendo isso? A vida é foda, mesmo no esforço, mesmo suada e com fome. Tento interpretar a oração da hora do banho que está em inglês e paquistanês. Do banheiro escuto a dona da casa deitada na cama assistindo algum programa em árabe e penso como a minha vida é mais interessante que a dela que não tem cor, não tem caipirinha, não tem nada além de servir ao seu marido e se preocupar com o calendário de afazeres que a "cleaner" tem para fazer até.... dezembro!

Na sala, empurro os enormes narguiles para esfregar o chão. Não sei se todo mundo sabe, mas na Inglaterra não tem rodo o que dificulta 4x mais a tarefa de limpar o chão. O "mopy", um esfregão daqueles que o povo usa no Mcdonalds, vem com um balde acoplado e para secar o chão tem que torcê-lo um milhão de vezes. Peço arrego e pergunto se ela tem algum pano de chão. Então a dona da casa solta a informação que tem vários ali guardados no armário, que na Tanzânia, seu país de origem, todo mundo faz a faxina com rodo e pano de chão, e que ela foi faxineira a vida toda. Então tá explicado, né? "Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser opressor", já setenciou Paulo Freire. Era por isso que ela acompanhava com tanto afinco cada passo que eu dava. Era quase uma espectadora assistindo seu programa de televisão favorito. Finalmente a sala de jantar já está perfeita. Na janela da sala, mais um papelzinho grudado; "100 maneiras de dizer Allah". E novamente eu pensando: isso aqui é experiência de vida demais!

No final de tudo antes de pegar o dinheiro e vazar, a senhora do alto de sua bondade me oferece um café. Recusei porque o cansaço era exaustivo, mas ela insistiu e eu decidi tomar. Conversa de elevador, o tempo, a Inglaterra, ela volta a dizer que as brasileiras são as melhores faxineiras da terra. "Friendly, and like so much your job". Eu concordo sem dizer um piu. Ela sendo faxineira e agora chefe de uma tradicional família muçulmana talvez tenha se esquecido como é ter que trabalhar pra viver. Chega por hoje, see ya Allah.






quinta-feira, 25 de agosto de 2016

O Trabalho Voluntário (Parte 1)



E então, no meio daquela cidade pequena e ainda desconhecida, estava eu, ansiosa para falar inglês, curiosa pra descobrir o pulsar que rodeava meu novo endereço, queria conhecer pessoas, queria postar fotos feliz com meus novos amigos, queria enfim, dar o start numa história que passava a ser só minha, a minha experiência fora do Brasil.

Pesquisei alguns cursos, coloquei anúncio de babá e faxineira nos murais. Os dias se passavam e nada acontecia. A euforia da chegada havia passado e a vida chamava pra parte séria da coisa. E nada. Foi ai que finalmente criei coragem e decidi bater na porta do trabalho voluntário, que parecia ser um caminho viável.

No centro de Peterborough existem várias lojinhas de doação, as chamadas "Charity Shop", aonde é possível comprar roupas em boas condições por 1 pound, bolsas, sapatos, livros e uma infinidade de coisas que chegam até lá.

Eis que no primeiro contato uma moça muito gentil disse que eu poderia começar quando quisesse. Segunda-feira às 09h, pronta para começar, chego nervosa e sou encaminhada para uma salinha nos fundos da loja. "Hello, Nathália, can you put on the clothes on the table, please?".

Coloquei minha bolsa num ármario que ficava numa cozinha improvisada, respirei fundo, enchi o pulmão de ar e vambora! Dai caiu minha  ficha de que eu e mais uma turma de senhorinhas éramos responsáveis por receber as roupas, separá-las, colocá-las no cabide de numeração certa, passar o stimer e deixá-las prontas para a venda. Nada que uma vendedora de loja convencional não saiba fazer. Mas um detalhe logo me pegou de surpresa: ninguém falava inglês!

Era um tal de entra senhora, sai senhora, chega senhora com carrinho de bebê, chega senhora com netos e brinquedos que tocam musiquinha, e nada do inglês aparecer. Pra mim aquilo ali era russo, mas quem sou eu pra julgar a língua dos outros, né?

Tinha uma senhora muito brava, lábios finos e retos, me lembrou a Red de OITNB. Ela viu que eu estava fazendo algo errado e começou a me dar todas as coordenadas no idioma dela! Eu segurei a risada, porque veja bem minha senhora, estou aqui para praticar inglês o quê é que a senhora tá falando?

E a cada coordenada era um doce que ela me dava. Na primeira vez, com vergonha, não aceitei o picolé de chocolate. E ela mandou um: "Why?" tão forte que peguei o sorvete e fim da história. Roupa vai, roupa vem, era uma pausa para um donut de chocolate. A tarde ia chegando e tacá-lhe doce nessa lojinha! Nesse dia devo ter comido uns 5 doces, e se no começo recusei, depois peguei numa boa. "Mas gente, vocês não falam inglês?", era o que eu pensava a cada mordida.

A moça que me recebeu no começo era a única que falava em inglês comigo, mas eram poucas palavras, frases isoladas e ela passava a maior parte do tempo falando no outro idioma.

"Vamo lá Nathália, é só o primeiro dia, como assim vendi meu carro pra chegar até aqui e desistir logo de cara?", a mente não dava trégua.

Fui trabalhar quarta, quinta e finalmente na sexta, certa de que não seria ali que eu falaria inglês, certa a agradecer a oportunidade e tocar a vida, eis que a moça manda: "Are you Bulgarian, isn't it?" Respondi: "Not, I'm Brazilian" e todas elas caíram na risada, porque naquela altura do campeonato elas tinham certeza que eu falava búlgaro.

Também ri aliviada por entender o que estava rolando, comi o último doce que fora doado e tive certeza de que a história tinha que continuar em outro lugar.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

faz parte

;´(

Os seres humanos e a necessidade de querer sempre estar aonde não estão. A inquietude da mente, o desejo pelo "lá", a desvalorização do aqui e do agora. Não faz o menor sentido viver engolindo meses e achando que no futuro, sempre ele, é que seremos felizes. Eu sei que quando voltar para o Brasil a maioria das coisas e as pessoas estarão do mesmo jeito de quando sai... eu sei, mas hoje eu queria muito comer pão de queijo e tomar o café de coador da minha mãe sabendo que o Lapa só passa de 40 em 40 minutos e mesmo assim não tendo preocupação, e mesmo assim estaria com a Diná grudada aos meus pés, e a cada gole o pensamento de que "nossa as coisas estão mesmo caras no supermercado, a crise, o Brasil, e o Fora Temer", eu queria, mas eu estou aqui sentada na mesa, a janela lateral aberta, o nublado inglês persistente, a BBC R1 tocando os mesmos pops e eu ensaiando estender a canga no carpete e desenvolver uns exercícios de pilates...

A verdade é que quando a saudade bate não há contagem regressiva que cesse, não há Chilli con Carne que tampe a vontade do pão de queijo quente, não há pop que cale a vontade do samba, e segue tudo isso o misto de crescimento e aprendizagem.

Eu não quero contar dias, eu quero sossegar minha cabeça e curtir o agora, eu desejo fazer curvas nessa reta, eu não aceito o morno e nem  a acomodação, por mais metas e objetivos que eu tenha feito, a vida é mais além, mais além que esse ensaio de texto, esse desabafo,

Nada como ficar sem algo para valorizá-lo, não é mesmo?



quarta-feira, 13 de julho de 2016

O aprendizado diário de quem é imigrante



Decidir morar fora do Brasil vai muito, muito além de aprender outro idioma e conhecer outra cultura, ainda que esses sejam os principais objetivos para viver essa experiência. A começar pela super glamourização que os brasileiros têm sobre a ideia de que viver em outro país é sempre uma grande festa, com muitas realizações, amigos pra dar e vender, além do idealismo de que ser garçom ou babá e ganhar uma grana honesta com esses trabalhos seja muito melhor do que continuar a batalhar pela carreira sonhada no Brasil. É óbvio que esse texto é sobre a minha experiência pessoal, do ponto de vista de uma jornalista de 29 anos, e também vale ressaltar que é totalmente diferente quando você faz uma viagem desse tipo aos 15, aos 20 e aos 30 anos.

Eu sou Brasileira de carteirinha e coração, tenho percepção de como algumas coisas vão mal no meu país, mas sei valorizar os diversos pontos positivos que ele possui e isso tem sido um aprendizado enorme: não comparar tudo com o Brasil e aprender que os Ingleses definitivamente não são como os brasileiros (e nem nunca serão). O povo brasileiro é vivo, alegre, falante, de fácil trato e tem prazer em hospedar quem quer que seja. Tem um pouco daquela coisa de síndrome de vira-latas que ao ver algum Europeu faz de tudo para que ele se sinta em casa, dá um jeito de fazer mímica e tenta até falar a língua extrangeira. (Brasileiro é foda!)

Com os ingleses não é assim. Com os ingleses do interior não é assim de jeito nenhum! Salvo algumas exceções (amigos do meu namorado que trabalha numa empresa daqui) é muito difícil fazer amizade, são quase 3 meses morando aqui e apenas uma vez fizemos amizade com um senhor que veio conversar conosco em um bar. Nos outros dias, seja andando na rua, parando em uma lanchonete ou estando na biblioteca, não conversei com ninguém. Vale dizer que após a saída da União Européia a xeonofobia cresceu e eu sinto o distanciamento deles aumentar com quem é estrangeiro.

Manda mais que tá pouco! 

Continuo aprendendo que não ter grandes expectativas ou exercitar a aceitação poupa várias lágrimas. Não é fácil. Tem a vergonha de falar errado, tem brincadeiras e piadas internas que não entendo (e eles não explicam), tem que saber lidar e conversar com quem realmente quer conversar comigo, tem que desconstruir a ideia de que a Amazônia não é perto de São Paulo e que o Brasil não é só samba, Carnaval (infelizmente) e futebol. E haja paciência para esperar a indicação do amigo do amigo que tem um restaurante e pode me arranjar um trabalho, ou a amiga da cabeleireira que ficou de falar com o namorado pra ver se consegue alguma coisa. Os dias vão passando. Enquanto isso, "tem que assistir TV e séries e inglês", eles dizem, "tem que sair sozinha e ir se virando por aí", eles dizem, mas ninguém diz que dá um desespero danado se você não sente que a coisa está fluindo. Não é tão simples sair por ai sozinha e se sentir ignorada. Tem que saber também que nem sempre você será a mesma pessoa que era no seu país de nascimento. A Nathália desinibida e cara de pau brasileira ainda não apareceu por aqui e tome mais aprendizado sendo tímida e falando pouco.
Falando ainda sobre as expectativas tem também as expectativas de outras pessoas (principalmente pai e mãe) que veem na viagem uma oportunidade de enriquecer, juntar dinheiro ou tirar um visto permanente e não voltar nunca mais porque para eles viver no fora do Brasil é muito melhor. La vai eu tentar explicar que nada é tão fácil como no filme do Telecine e sou julgada de "pessimista ou reclamona de barriga cheia".

Saudades


Viver fora do país também me ajuda a enxergar o tamanho desse mundo todo, a importância das minhas amizades, tenho descoberto saudades diferentes (nunca quis tanto um pão de queijo na vida!) e praticar o autoconhecimento tem sido atividade diária. É chato saber que meus amigos estão em Festas Juninas enquanto na Inglaterra chove a chuva de todos os dias e eu me contento com as fotos do Instagram e a playlist do Youtube. Mas é também valioso saber que eu sou mais uma dessa multidão e que não faço tanta falta assim (sem mimimi), quem parte é que aprende a enxergar isso, quem fica segue vivendo a caminhada. Receber um áudio do Santo Forte, ou uma foto de alguém que foi no forró e lembrou de mim reafirma minhas raízes, de onde eu vim e pra onde vou voltar, já que com tantas emoções é fácil esquecer esses fatores importantes.

Como eu disse no começo do texto o aprendizado é árduo e diário, mas é também maravilhoso. Dia desses estávamos tomando sol no gramado em frente à enorme catedral. Era fim de tarde, não tinha mais ninguém ao nosso redor e ao mesmo tempo em que eu olhava o topo da igreja eu senti uma sensação boa de quem sabe que tudo é passageiro e que não há o que temer (fora Temer!!!), a gente tem mais é que tentar ser feliz mesmo diante das dificuldades.

E só pra finalizar: eu também tenho aprendido que exercitar alguns clichês é fundamental, mas a gente tem mania de desprezá-los.



sexta-feira, 10 de junho de 2016

Relato sobre machismo




Aos 9 anos eu tinha que passar por uma esquina pra chegar até a casa da minha avó e nesta esquina sempre tinha muitos moleques mais velhos,de uns 15 anos e eles assobiavam, faziam palhaçadinhas, brincadeirinhas, aceleravam a moto e eu ODIAVA ter que passar por aquele caminho e odeio até hoje. Vinte anos depois, os moleques cresceram e tornaram-se homens que continuam na esquina mexendo com as mulheres. Até hoje eu recebo olhares que me incomodam, mas agora se fizer qualquer barulho o cara leva um xingo muito grande.

Aos 13 quando a moda era usar calça legging branca no auge do verão dos anos 2000 eu tinha que usá-la com uma blusa amarrada na cintura porque eu me sentia um pedaço de carne na rua e era só ódio que aumentava. Até hoje eu odeio usar legging pelo mesmo motivo.

Aos 14 num sábado de sol fui sozinha ao supermercado que tinha próximo à minha casa e um cara de uns 19 anos passou a mão na minha bunda e olhou firme pra mim, naquela hora, com a Raposo Tavares bombando, porra, às 14h de um sábado, eu tinha certeza de que seria estuprada, mas ele foi embora e eu parei de fazer esse caminho sozinha por medo.

Aos 16 e sob um relacionamento abusivo e muito pesado, além de ficar vidrada assistindo novelinha da Globo, eu acreditava piamente que o cara podia fazer o que bem quisesse, mas era pra mim que ele sempre voltava, ai essa dor de amor que no último capítulo tem sempre um final feliz. E quando a ousada era eu que saia sem avisar, ou ficava de conversinha com algum amigo era briga na certa. Como assim tá conversando com outro homem que não sou eu?  Que fase horrível!

Aos 17 eu decidi que não iria mais em nenhuma baladinha da Vila Olímpia, porque eu odiava aqueles corredores que os moleques faziam e ficavam pegando na barriga das meninas, puxavam os braços, passavam as mãos nas nucas, era uma sensação ridícula e eu sempre tinha que usar muita força e empurrar os caras fazendo com que a balada fosse uma merda.

Aos 22 eu comecei a ir pro forró aonde finalmente eu tinha um lugar pra dançar sem compromisso, sem corredor com homem babaca, sem área Vip, sem porra nenhuma, mas ai de mim se começasse a ficar com vários caras, aonde já viu ser mulher solteira ficar falada na boca do povo, ai de mim  pegar outro cara no meio do baile, como assim? Não pode. tem que se esconder, só os caras podem, você não, você é mulher e pega mal. Que grande bosta, hein?

Aos 24 sob um relacionamento machista, o cara achava que podia tudo, sair escondido, não dar satisfação, mas ai de mim se não atendesse o telefone, ai de mim se não colocasse status no Facebook, ai de mim se saisse sozinha, ai de mim se subisse numa cadeira pra cantar minha música favorita, que horror, hein? você é mulher, tem que se comportar.

Aos 28 indo pro trabalho num domingo, fui assediada por jovens bêbados que estavam sentados na escada da estação de metrô. Mexeram comigo, fizeram piada, achei que dessa vez seria diferente, e fui atrás de algum segurança que fizesse alguma coisa. Na estação Butantã só trabalhavam seguranças homens e o segurança que me ouviu disse que não poderia fazer nada, até porque "eles estavam brincando e não enconstaram em você".

Durante toda a vida eu ouvi: "Se comporta, Nathália, homem nenhum vai ter querer desse jeito, Nathália, fica quieta, Nathália, esse vestido tá muito curto, Nathália, mas vai com essa saia, Nathália? E os namoradinhos, Nathália?

Eu também já fui muito machista e o pior é que reforçava frases (mal) feitas como "aquela ali é vagabunda, olha o jeito dela", "aquela ali é uma vaca, olha aquela roupa" "olha ali aquela puta dando em cima do meu namorado" (a culpa era sempre das mulheres, meus ex eram sempre santos e eu era ignorantemente cega), eu reforçava justamente o que eu mais odiava que fizessem comigo.

Mas graças a internet, aos textos, às novas amizades que foram surgindo, graças a esse movimento todo, a coisa engrenou de uma tal forma que posso olhar pra trás e enxergar como a desconstrução foi benéfica na minha vida, e se por um lado ainda tem muita mulher por aí arrumando encrenca e engrossando o caldo de uma competição boba e machista, por outro, felizmente, as mulheres estão se unindo, se ajudando, botando a sororidade pra rodar!

O machismo tem que ser combatido todos os dias e esse é um caminho sem volta. Ainda tem muita coisa pra ser desconstruída, é tijolo por tijolo, um processo árduo e longo, mas que bom poder escrever esse texto apesar de todas as lembranças tristes. Acredito que algo melhor está em construção.

PS: #naopassarao



quarta-feira, 1 de junho de 2016

Pqna Dosagem....

... da vida atual



Enquanto vejo um vídeo sobre massagem modeladora, na outra aba tem uma receita de Fondue, na outra tem uma entrevista com a Marília Gabriela, no celular tem amigas falando via Whatssap e de quebra eu passo os olhos rapidamente por um email. É assim que de uma forma que eu não consigo explicar muito bem eu consigo me organizar e fazer tudo aquilo que propus. Falta de foco? Falta de concentração? Alguns com certeza diriam que sim, mas esse é meu jeito de trabalhar e desenvolver textos, cozinhar e ouvir um som. Acho que essa cena pode dizer muito sobre mim: acelerada, multitarefas e ligada em 220 volts. Que assim seja! Se tô quieta é porque tem algo errado....





quarta-feira, 18 de maio de 2016

Glamour in Peterborough

                             Chuveiro que não funciona é glamour?


"Ah, chique é você que mora na Inglaterra". Realmente a vida aqui fora é muito glamurosa, tanto é que decidi reunir o que já rolou de mais chique nos últimos 30 dias nesta terra.

Entre Burguer Kings e Kebabs os funcionários de alguns estabelecimentos não têm a mínima paciência com quem é de fora e não entende logo o que eles estão falando. No começo eu mandava um "thanks" e seguia a vida, mas agora que já boto minhas asas de fora eu peço para eles falaram bem devagarinho, afinal a cliente sou eu, não é mesmo?

E aí que a bicicleta quebrou e na lojinha mais em conta da cidade o atendimento ao cliente também não é dos melhores. Os funcionários não quiseram tirar dúvidas e não mostraram muita vontade em ajudar. Fora isso, haviamos combinado de pegar a bike em uma data e ao chegar lá ouvimos: "Ah ainda não está pronta, sorry". É ou não é muito glamour?

Eis que começa aquela chuva chata que não vai parar tão cedo e eu precisando correr ao supermercado tive a maravilhosa ideia de ir na chuva. Não, não tenho guarda chuva. Vesti o casaco com capuz e fui à luta. Encharcada, voltei com as compras na mochila e a chuva apertando cada vez mais. Como desgraça pouca é bobagem, eu e Sidnelson tivemos a brilhante ideia de colocar meu tenis em cima do aquecedor para secar. Na verdade o pessoal aqui faz muito isso, já que as roupas não secam por conta do tempo frio. E advinhem o que aconteceu? O tênis derreteu!

O que pode ser melhor para um domingo de sol do que começá-lo com um bom banho? Poderia ser eu, mas o chuveiro não quis colaborar e pifou. E aqui temos uma nova saga: A Saga do Chuveiro Britânico. **** ainda em construção, porque o problema ainda não foi solucionado.

Diferente do Brasil, por aqui não basta comprar uma resistência nova porque a parada é mais complexa. Primeiro porque o chuveiro é diferente e tem uma caixa interna, segundo que o apê é alugado e tem aquela burocracia de ter que ligar na imobiliária, que liga pro dono, que autoriza fazer a manutenção, que liga na imobiliária e agenda o serviço.

Serviço agendado, tudo certo, pá. chega o eletrecista. "Ih, o disjuntor explodiu, senhora". "Eu não cuido disso, vou ter que falar com o meu superior para ele vir resolver amanhã".

                                "Ele explodiu"

No dia seguinte:
"Olá, eu sou o superior do cara que veio ontem e vim aqui apenas para ver o que é necessário". Ok, e você vai resolver o problema hoje? "Não. agora eu vou enviar a solicitação de peça para a imobiliária, ela vai pedir a autorização para o dono do apartamento e então eu vou poder vir com a peça para fazer o serviço". Mas você sabe QUANDO isso será possível, senhor?
"Não. Isso é com a imobiliária". E assim seguimos desde domingo tomando banho na banheira que graças aos céus possui água quente.

Ah Brasil, tá reclamando do quê então? Você tem banheira aí, meu! Vem aqui lavar o cabelo 3 dias na banheira ai depois a gente conversa, tá?

                                 Hello. Its me.

E é assim que termino esse post glamour sobre como muitas vezes temos a ilusão de que a vida fora do nosso país é mais fácil. É uma cilada, Bino! As dificuldades vão surgir em qualquer canto desse mundo. O negócio é não perder a fé e manter os pés no chão!







quarta-feira, 4 de maio de 2016

Pequeno registro


Queria um texto pra poder guardar tudo isso, pra sintetizar tudo isso, pra poder depois rememorar tudo isso. essa cidade pequena e linda, o povo e seus costumes singelos apenas vivendo suas vidas, um predinho silencioso de vizinhança quase inexistente, a ciclovia e os parques cortados pelo rio. o rio. o rio que corta a cidade, que atravessa pontes, que faz sua correnteza ventar gelado à noite, o trilho do trem enorme, o shopping, o supermercado, que até agora foi o lugar aonde mais passei.

Queria um texto que mostrasse com verdadeiro realismo a importância de viver em um outro ritmo de vida, e não é que eu esteja iludida, sem essa de "nossa fora do brasil é bem melhor", é que de verdade uma qualidade de vida maior é possível quando o seu trabalho é parte da sua vida e não o mais importante dela.

Se eu pudesse saia fotografando a terceira idade bem populosa por aqui, com seus carrinhos que se assemelham à muletas, mas têm rodas, essa terceira idade encapotada e acostumada com o vento gelado mesmo com sol no céu, uma terceira idade que se junta na lanchonete pra tomar café quente e comer baguete recheada. Queria um texto que conseguisse extrair a tranquilidade da vida no interior, uma tranquilidade que permeia todas as idades e classe social, embora as classes sociais por aqui não sejam tão distintas como as do Brasil.

Queria poder registrar todas as casinhas e suas janelas com cortinas, umas casinhas que eu penso: não é possível que ali more alguém, nesse silêncio todo, com essa organização toda, cadê bagunça?

Queria muito colocar nessas linhas o cheiro que o prato típido inglês têm. É um cheiro de carne com batatas, mas vem misturado com o cheiro do calor da cozinha, aquele cômodo que une as famílias nunca tá brincadeira, o forno é quente e sai fumaça que embassa o vidro da janela, mas voltando ao prato e aos cheiros, o cheiro do molho gravy é tão gostoso que dá vontade de inundar o prato como se fosse sopa. É ele quem rega as batatas assadas, passa por cima da carne de porco também assada, molha as ervilhas e os yorkshire puddings, um bolinho salgado que nunca vi nada parecido.

Também vale o ensaio de querer registrar que o trânsito é ao contrário. Os carros vão surgindo meio que do nada, surgem do lado direito da rua, umas curvas ao contrário tão nada a ver que não tem como discutir até porque o tráfego funciona tão direitinho e eles respeitam os ciclistas, é lindo de ver, e o melhor, é lindo estar em uma bicicleta e ver os carros parando para você passar, é lindo mesmo.

A vida vai seguindo seu caminho, eu vou ganhando segurança pra desenrolar essa língua, aberta ao novo e sem encrenquinha com o que é diferente, domando a ansiedade que quase me atropela, sentindo os dias, assim mesmo no gerúndio, porque tudo é um processo, a grama não pinica e posso estender minha canga e ensair também os exercícios de pilates que tanto gosto.

Ilusão achar que dá pra registrar tudo isso, desperdício não tentar. Seguindo.

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Pote de felicidade

Um potinho de felicidade. Eu nem sabia o quão importante poderia ser um creme de mão na minha vida, mas após tê-lo comigo eu percebi como essas metáforas são importantes, além de bonitas. Havia muito tempo que eu não adquiria nenhum produto de beleza, pois em tempos de crise e falta de trabalho o importante é consumir apenas o necessário.

Para quem faz as unhas em casa, como eu, acetona se faz necessário, mas creme de mão, nem pensar. e seguia eu com as mãos ressecadas após lavar louça ou por alguma roupa para bater. ao invés de resolver logo esse incomodo comprando qualquer coisa pra hidratar as palmas das mãos, eu segui nesse pensamento de economizar. e assim foi com o creme de mão, esmaltes novos, palito de cerejeira e até hidratante corporal. na minha cabeça tudo isso era supérfluo e com R$ 10,00 era mais válido carregar o bilhete único.

eis que me vi inserida novamente no mercado de trabalho pelo período de um mês, tempo combinado para o freela. e o ressecamento foi me incomodando cada vez mais a ponto de todos os dias pedir emprestado o creminho da amiga que sentava ao meu lado na bancada. a cada vez em que eu o passava sentia uma felicidade tão simples e me lembrava como era bom o tempo de ir na farmácia e comprar o que eu quisesse sabendo que tinha saldo para tal.

e então eu percebi que eu poderia sim trazer à tona esse momento efêmero de hidratar as mãos e deixar de gastar com outra coisa que não julgasse tão necessária no momento. decidi que após o trabalho eu iria ao shopping e além de dar uma volta, como tantas vezes fiz, e tantas vezes gostava de andar sozinha olhando vitrine, compraria um creme bem cheiroso e aveludado e que me trouxesse novamente um momento de felicidade diária.

com ele dentro da bolsa eu senti uma alegria singela e foi muito mais do que hidratar as mãos, foi ter consciência que não importa a falta de trabalho ou dinheiro, massagear o ego vez em quando é fundamental para aliviar a vida, cuidar da auto estima se faz necessário quando estamos bem ou não. e agora eu posso cuidar de mim todos os dias através de um tudo de 30 ml, meu potinho de felicidade favorito.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Um novo tom de cinza



Este blog começou em dezembro de 2007 com o objetivo de treinar a escrita, desenvolver textos maiores e não acadêmicos, inventar linguagens. Eu, então no segundo ano de faculdade de jornalismo, e até então apaixonada por São Paulo, decidi rabiscar umas crônicas e segui na minha versão ~ blogueira ~.

O tempo foi passando e tinha vezes em que eu escrevia como se ele fosse um diário,  era a minha terapia preferida para clarear questões amorosas, montar listas singulares, expor meu lado engraçado. Um blog não precisa de um motivo especial, basta existir, ora.

Quase 10 anos se passaram e a vida percorreu caminhos malucos, eu deixei de amar completamente essa cidade que hoje em dia nem é tão mais cinza, conheci e me apaixonei perdidamente por Cuba, mal disse o jornalismo, fui morar sozinha, rodei muito por aí com o Catarino, trabalhei numa rádio, aprendi que o amor mais puro e sincero vem das crianças, continuei indo ao forró e me acabando no Santo Forte,  vendi o Catarino, fui estudar e aprendi na marra a gostar de inglês, passei por altos e baixos e perdi aquela sede de escrever. Acho que fiquei um pouco chata,  perdi o gosto pelo corriqueiro, chata, eu já tinha dito. Vezes passava por aqui, vezes escrevia tudo e só salvava...

A vida é muito louca e eu adoro o que não é planejado. Faz tempo que tenho vontade de dar um pause na vida aqui no Brasil e ver qualequeé  lá fora. Mas tem a crise, tem a falta de trabalho e os freelas que demoram a pagar, tem as contas que batem mensalmente à nossa porta, mas tem vontade também, tem sonho, tem desejo e tem o principal que é a caminhada que vai acontecendo aos poucos.

Esse blog começou em dezembro de 2007 e eu jamais imaginaria que algum dia o Cinza que designei para São Paulo, a terra da garoa, serviria para como fundo de um outro tom de cinza, bem mais distante. Londres, ai vou eu! Londres, talvez a cidade mais cinza do mundo. Lá chove miúdo e continuamente, chove e o céu é pintado de um cinza saído do filme da Tela Quente. Londres. Esse nome que me era tão distante agora vai virar endereço de correspondência.

Eu já falei mil vezes que não quero ser mais jornalista, mas aqui dentro ainda mora uma alma curiosa que consegue pinçar os detalhes. Meu gosto pelo corriqueiro estava esquecido, mas eu o trouxe à tona novamente. Daqui há exatos 11 dias estarei escrevendo meu primeiro texto de lá. Eu nem sei como cheguei até aqui. Mentira sei muito bem e sinceramente não foi nada fácil. Mas cá estou com dois pés bem firmes no chão, uma barbatana ativa que não para de se mexer, a mala quase pronta, um casamento no meio do caminho e dois freelas que só me pagarão quando eu já estiver me habituando por lá, porque o bolo a gente sabe, carece de ter cereja.
São 11 dias que parecem 11 anos.

Hello, London!
Nice to meet you too.

domingo, 13 de março de 2016

Tatuagem do Desassossego



Mas aquela tatuagem no antebraço esquerdo me dava um tesão quase incontrolável. Como podia isso? Como era possível que uma imagem tivesse esse controle sob mim?

Tudo bem que o desenho era bem feito, bem lindo, perfeitinho em seus detalhes, mas porra, era só uma tatuagem! Uma coruja de olhar firme, olhos cravados pro mundo, asas revertidas em traços que se transformavam em uma mandala. A cada olhar na tatuagem era uma viagem diferente, viagem de nós dois que nunca aconteceu.

A coruja me encarava, e eu, sem medo, a olhava firmemente de volta. Ela não podia piscar e eu desafiava meus limites sem querer fechar o olho. A sensação era como se eu entrasse em você, mergulhasse na tua veia sanguinea, dentro do corpo, e nessa viagem de vontade, tatuagem e corujas, íamos pra zona norte, de volta pro lugar de onde nao deveríamos ter saído nunca. Sabe que os cílios da coruja eram como os seus? Curvados e bem juntinhos.

Quando dei por mim o caminho já havia avançado, eu tinha que dar sinal e descer do ônibus para mais um dia de batalha sem você. Você, que não consegue enxergar um palmo diante dos olhos, ou talvez finja não saber que eu estou totalmente nas suas mãos, no seu braço, na sua tatuagem que faz questão de esfregar na minha cara que tudo isso não passa de uma ilusão, só ela é que é tua, cravada em carne, pra sempre.

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e vontade, vontade mesmo, era da nossa pegada. era do jeito que a gente se conectava um ao outro sem precisar dizer nada, num dilaceramento de tirar rótulos, despir preconceitos, calar mimimis e deixar somente os atos tomarem conta do cenário. eu desejei muitas vezes mais sentir tudo isso. uma saudade do que nem aconteceu.


* Texto publicado na coletânea "Departamento de Pequenas Causações" produzido em parceria com as maravilhosas amigas que conheci durante a oficina de escrita criativa da Clara Averbuck.