domingo, 12 de abril de 2015

Composição de capítulos


A vida é feita de instantes. Um churrasco com forró em vinil. Um bar tocando música brasileira. Uma gringa jantando na sala da minha casa. O vinho no Natal. Os blocos amados de Carnaval. Pequenos instantes que desenham e escrevem a história, aos poucos, constantemente. Não tenho o controle sobre a escrita dos outros, mas posso escolher se escrevo a minha a lápis, caneta ou giz de cera. E é preciso apontar, ou forçar a caneta quando ela insiste em não querer rabiscar. Há também a espera, a expectativa, planos, projetos, sonhos, que vão surgindo e compondo o desenho-texto.

Instantes. Momentos. A vida pulsando e o coração mandando o recado de que vai bem obrigado.
Não adianta antecipar acontecimentos ou sensações, sofrer à toa ou comemorar o que ainda nem se concretizou, É preciso paciência. Pro bolo assar, pra criança nascer, o salário entrar, o sol sair. E é justamente no ato do acontecimento que o corpo reage e a mente vai se dando conta do que aconteceu. 


Quando bate meia noite de 1 de janeiro, rola o primeiro beijo, o sim do processo seletivo, o não do pedido de casamento, a batida do carro, a música favorita na balada, o término, a viagem de férias, o primeiro choro do bebê, a vela apagada no aniversário, o ente querido que muda de plano, a bolsa do mestrado que saiu. 

E a ficha cai. 

Papel em branco a postos pra começar mais um capítulo. É difícil acalmar a mente e não tropeçar sozinha, tenho a mania de olhar pro horizonte e imaginar o que me espera daqui 40 anos, instantes longínquos impossíveis de decifrar. A sorte é já ter a consciência de que viver o agora vale mais do que adivinhações. 

Posso contar com a memória e relembrar capítulos lindos já vividos e me orgulhar desse livro que venho compondo sem medo, só dosando a ansiedade. Às vezes o que acontece não me faz sentido, busco inocentemente os porquês lineares sendo que a vida de linear não tem nada. Do começo ao fim tento aprender e aceitar a força de cada fortuna. Mas sinto que lá na frente, aconteça o que tiver de acontecer, as peças se encaixam, sempre.

Porque a colheita chega e a semeadura já foi feita!



quarta-feira, 1 de abril de 2015

(...)

saudade daquele cabelão, pontas loiras, liso e pesado.
saudade do que foi, e ainda vem...
minha mãe dizia: você vai cair!
e eu não parava até que caia... e só parava no chão.