quarta-feira, 18 de maio de 2016

Glamour in Peterborough

                             Chuveiro que não funciona é glamour?


"Ah, chique é você que mora na Inglaterra". Realmente a vida aqui fora é muito glamurosa, tanto é que decidi reunir o que já rolou de mais chique nos últimos 30 dias nesta terra.

Entre Burguer Kings e Kebabs os funcionários de alguns estabelecimentos não têm a mínima paciência com quem é de fora e não entende logo o que eles estão falando. No começo eu mandava um "thanks" e seguia a vida, mas agora que já boto minhas asas de fora eu peço para eles falaram bem devagarinho, afinal a cliente sou eu, não é mesmo?

E aí que a bicicleta quebrou e na lojinha mais em conta da cidade o atendimento ao cliente também não é dos melhores. Os funcionários não quiseram tirar dúvidas e não mostraram muita vontade em ajudar. Fora isso, haviamos combinado de pegar a bike em uma data e ao chegar lá ouvimos: "Ah ainda não está pronta, sorry". É ou não é muito glamour?

Eis que começa aquela chuva chata que não vai parar tão cedo e eu precisando correr ao supermercado tive a maravilhosa ideia de ir na chuva. Não, não tenho guarda chuva. Vesti o casaco com capuz e fui à luta. Encharcada, voltei com as compras na mochila e a chuva apertando cada vez mais. Como desgraça pouca é bobagem, eu e Sidnelson tivemos a brilhante ideia de colocar meu tenis em cima do aquecedor para secar. Na verdade o pessoal aqui faz muito isso, já que as roupas não secam por conta do tempo frio. E advinhem o que aconteceu? O tênis derreteu!

O que pode ser melhor para um domingo de sol do que começá-lo com um bom banho? Poderia ser eu, mas o chuveiro não quis colaborar e pifou. E aqui temos uma nova saga: A Saga do Chuveiro Britânico. **** ainda em construção, porque o problema ainda não foi solucionado.

Diferente do Brasil, por aqui não basta comprar uma resistência nova porque a parada é mais complexa. Primeiro porque o chuveiro é diferente e tem uma caixa interna, segundo que o apê é alugado e tem aquela burocracia de ter que ligar na imobiliária, que liga pro dono, que autoriza fazer a manutenção, que liga na imobiliária e agenda o serviço.

Serviço agendado, tudo certo, pá. chega o eletrecista. "Ih, o disjuntor explodiu, senhora". "Eu não cuido disso, vou ter que falar com o meu superior para ele vir resolver amanhã".

                                "Ele explodiu"

No dia seguinte:
"Olá, eu sou o superior do cara que veio ontem e vim aqui apenas para ver o que é necessário". Ok, e você vai resolver o problema hoje? "Não. agora eu vou enviar a solicitação de peça para a imobiliária, ela vai pedir a autorização para o dono do apartamento e então eu vou poder vir com a peça para fazer o serviço". Mas você sabe QUANDO isso será possível, senhor?
"Não. Isso é com a imobiliária". E assim seguimos desde domingo tomando banho na banheira que graças aos céus possui água quente.

Ah Brasil, tá reclamando do quê então? Você tem banheira aí, meu! Vem aqui lavar o cabelo 3 dias na banheira ai depois a gente conversa, tá?

                                 Hello. Its me.

E é assim que termino esse post glamour sobre como muitas vezes temos a ilusão de que a vida fora do nosso país é mais fácil. É uma cilada, Bino! As dificuldades vão surgir em qualquer canto desse mundo. O negócio é não perder a fé e manter os pés no chão!







quarta-feira, 4 de maio de 2016

Pequeno registro


Queria um texto pra poder guardar tudo isso, pra sintetizar tudo isso, pra poder depois rememorar tudo isso. essa cidade pequena e linda, o povo e seus costumes singelos apenas vivendo suas vidas, um predinho silencioso de vizinhança quase inexistente, a ciclovia e os parques cortados pelo rio. o rio. o rio que corta a cidade, que atravessa pontes, que faz sua correnteza ventar gelado à noite, o trilho do trem enorme, o shopping, o supermercado, que até agora foi o lugar aonde mais passei.

Queria um texto que mostrasse com verdadeiro realismo a importância de viver em um outro ritmo de vida, e não é que eu esteja iludida, sem essa de "nossa fora do brasil é bem melhor", é que de verdade uma qualidade de vida maior é possível quando o seu trabalho é parte da sua vida e não o mais importante dela.

Se eu pudesse saia fotografando a terceira idade bem populosa por aqui, com seus carrinhos que se assemelham à muletas, mas têm rodas, essa terceira idade encapotada e acostumada com o vento gelado mesmo com sol no céu, uma terceira idade que se junta na lanchonete pra tomar café quente e comer baguete recheada. Queria um texto que conseguisse extrair a tranquilidade da vida no interior, uma tranquilidade que permeia todas as idades e classe social, embora as classes sociais por aqui não sejam tão distintas como as do Brasil.

Queria poder registrar todas as casinhas e suas janelas com cortinas, umas casinhas que eu penso: não é possível que ali more alguém, nesse silêncio todo, com essa organização toda, cadê bagunça?

Queria muito colocar nessas linhas o cheiro que o prato típido inglês têm. É um cheiro de carne com batatas, mas vem misturado com o cheiro do calor da cozinha, aquele cômodo que une as famílias nunca tá brincadeira, o forno é quente e sai fumaça que embassa o vidro da janela, mas voltando ao prato e aos cheiros, o cheiro do molho gravy é tão gostoso que dá vontade de inundar o prato como se fosse sopa. É ele quem rega as batatas assadas, passa por cima da carne de porco também assada, molha as ervilhas e os yorkshire puddings, um bolinho salgado que nunca vi nada parecido.

Também vale o ensaio de querer registrar que o trânsito é ao contrário. Os carros vão surgindo meio que do nada, surgem do lado direito da rua, umas curvas ao contrário tão nada a ver que não tem como discutir até porque o tráfego funciona tão direitinho e eles respeitam os ciclistas, é lindo de ver, e o melhor, é lindo estar em uma bicicleta e ver os carros parando para você passar, é lindo mesmo.

A vida vai seguindo seu caminho, eu vou ganhando segurança pra desenrolar essa língua, aberta ao novo e sem encrenquinha com o que é diferente, domando a ansiedade que quase me atropela, sentindo os dias, assim mesmo no gerúndio, porque tudo é um processo, a grama não pinica e posso estender minha canga e ensair também os exercícios de pilates que tanto gosto.

Ilusão achar que dá pra registrar tudo isso, desperdício não tentar. Seguindo.