quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Amigos de aniversário


C
om a correria do dia-a-dia. Blah! coisa mais chata começar o texto novamente desse jeito. O causo é: vivemos cheio de coisas para fazer. É trabalho, faculdade, namorado, família, academia, inglês, amigos. No meio desse emaranhado de coisas vamos dando um jeitinho alí, encontrinho acolá, marcando churrascos, almoços e praias, pra tentar dar conta de tudo. Mesmo assim fica difícil achar um tempo pra ficar somente com os amigos.

Aquele dia/tarde/noite em que nos encontramos pra rir, conversar, comer, tirar foto e rir mais um pouco. Passamos a unir as coisas: Jú, tô indo no shopping comprar um presente, quer ir comigo? Clarinha, o cabeleireiro é perto da sua casa acho que vou dar uma passada ai, tá? Ainda bem que existem pessoas que conseguem arranjar uma brexa no tempo para nos encontrar. Ao contrário desses, tenho vários, e todo mundo conhece essa espécie a quem dedico com certa ironia esse texto: os amigos de aniversário.

Muitos nem sabem o dia do seu nascimento, mas com o abençoado orkut dando aquela ajuda básica, tudo fica mais fácil. E aí, quando fazemos aquela reuniãozinha, ou balada, eles sempre aparecem. É aniversário, né? Tem que haver o mínimo de consideração. O fato é que nas festas nunca damos total atenção para um convidado e os papos ficam pela metade, pra no ano que vem serem continuados. Sei lá porque esses amigos entram para essa lista.
Quer dizer, acho que sei sim. Eles acabam dando mais prioridade aos namorados (a), acham que sempre estaremos disponíveis, e adoram jogar a culpa na correria.

Ora, correria! Quem realmente quer ver, conversar e estar junto, sempre arranja um tempo. Sei lá, ligam, dão um jeito de se mostrar presente. Será que existe paulista que não viva na correria? (Pausa sem importância). Acaba que nós, depois de certo tempo tentando envão marcar um encontro, perdemos totalmente o tesão e deixamos com que eles caiam no esquecimento; não fazemos por maldade, mas por puro cansaço.


Lí uma vez que não é tão ruim separar os amigos em departamentos, afinal quando bater a saudade eles estarão ali (?). Mesmo assim sou contra essa distância conformada que se instalou por aí. O pessoal sente falta mas tem preguiça de ir atrás, coisa mais estranha. Por isso deixo meu recado: Amigos de aniversário, manifestem-se! Vocês correm o risco de mudar de lista e serem enquadrados na listinha do criado mudo. Lugar certo pras coisas sem muito valor.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Tolerância zero

senta na antena



Nego que nem me conhece vem me perguntar o que eu estudo. Segue o diálogo:

Jornalismo!
Onde?
na Metodista
huum, não conheço. Mas você sabe que a melhor da área é a Casper Líbero, né?
*pausa para respiração profunda e anti-palavrão*
É nada, vc conhece a Metô? sabe qual a infra que ela tem, os professores e tals?
Nossa, você é meio brava, né?
Sorriso amarelo

nem sei se a pessoa fez por mal, quis ajudar ou o que quer que seja.
Mas já a odeio e não quero mais saber de papo.

Tô quieta no meu canto e vem falar o que não deve?
É o que eu sempre digo: depois que toma um xingo vem dizer que sou maloqueira.

domingo, 23 de novembro de 2008

Miedo do miedo que dá

Eu tenho medo de ficar de DP de TV, rádio e foto.
De não conseguir me formar, de ser uma jornalista frustada.
Tenho medo de ficar gorda, de não conseguir dirigir.
Ter câncer, perder a voz,quebrar os dentes, tudo isso me amedronta.
Medo da minha mãe e pai morrerem antes que eu.
Tenho medo de velório, de não conseguir chorar, medo de nunca mais amar alguém,
de perder a Lóris.

Medo de fazer a tatuagem, de não poder comer chocolate, de ficar tiazona e perder o senso do ridículo. Medo de abandonar a música, os livros, de não rir da palhaçada dos amigos. Medo de não saber me expressar, de guardar rancor no peito
De não achar graça no cotidiano, de me tornar indiferente pra um alguém especial.

Medo de falar em público, colocar um filho no mundo, não arrumar emprego depois do estágio. Me amedronta e ao mesmo tempo me encoraja o fato de não saber pra onde estou indo.
Medo de deixar o comodismo tomar conta, de ser sedentária. De perder o movimento das mãos, de acabar a água do mundo. De não sentir pulsar a ânsia pela escrita. De perder o gosto pelo simples. Medo de perder a humildade e a dose de maldade.
Medo de não resistir e entregar os pontos.
Será que colocando pra fora eles diminuem?

O melhor lugar do mundo


Era sábado a noite e chovia aquela garoa fina desestimuladora de gandaias. Desencanei do forró e me rendi ao sofá com Altas Horas. Daí pensei nas mil e uma possibilidades de melhor ter aproveitado o dia mais querido e esperado da semana. Poderia ir beber na Vila, cinemão com um esquema, casa de uma amiga, pedir uma pizza. Nada.

Eu tava era feliz em casa e com o meu coração a salvo. São nesses momentos que me sinto uma velha mas muito feliz. Não tenho necessidade de beijar oito numa balada, amar alguém, comprar o último jeans da moda nem esbanjar felicidade aos quatro cantos do mundo. Estava me sentindo calma, lúcida e sossegada. Em casa, com segurança e sem maiores necessidades. Só quando passamos muito tempo longe do lar é que damos valor ao nosso canto, aquele lugar que nos aconchega por sí só, apenas por existir. Não importa se é uma mansão no Jardins, um kitinete na São João ou um apê normalzinho do Butantã. O que vale é chegar em casa, tirar os sapatos e fazer o que der na telha.

Muitas vezes prefiro o acolhimento à tórridas noitadas de pegação e bebedeira. Não acho isso desperdício de vida, pelo contrário, pedi aos deuses que me enviassem essa calmaria sem precisar estar feliz com alguém, por alguém ou em algum lugar super mirabolante.

Gosto de ficar no meu quarto mexendo, arrumando, descabelada sem ninguém precisar me ver. Nessas horas a sós é que pensamos nos nossos problemas
(e soluções), fazemos planos, sonhamos. É o encontro do eu com o comigo. Deixamos o personagem do trabalho/faculdade pra assumirmos o que realmente somos. Sem precisar de auto-afirmação ou aprovação de outrem. Eis o sossego desmedido e cúmplice do ser. Acho que todos merecem um momento relax em casa sem pensar em nada. Só assim pra recarregar as energias e conseguir encarar mais uma semana pauleira que a segunda-feira já rascunha.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Gentileza é uma arte


Desconfio das pessoas que vivem sorrindo. Soa falsidade e sempre me vem à cabeça algo do tipo: "Nun é possível que ela seja sempre feliz". Sabe quando cruza com você no corredor e solta um puta ar de felicidade sem motivo, e quando tá na rodinha de amigos finge que não te conhece?. Fica na cara que não é verdadeiro. Mas há aquelas sutis que te ganham com um "Oi", sei lá, um aperto de mão talvez, e não necessariamente vivem mostrando os dentes.

A gentileza deveria ser característica de todos os seres humanos. Não sou exemplo do bom humor de graça e escrachado. Gosto do humor inteligente, sarcástico e sempre faço o possível pra ser gentil. Isso sem dúvida nos abre muitas portas. Uma vez Danuza Leão contou que não se dava muito bem com a empregada porque essa fazia apenas o que lhe era pedido. Quando contratou outra, ainda com certo receio, se surpreendeu logo de cara. Tudo porque a nova moça se ofereceu para acompanhá-la ao médico. Com uma simples pergunta ganhou a chefa que tem fama de marrenta.

É o que eu penso. A sutileza de graça e espontânea aproxima as pessoas, o que se tornou quase uma proeza se tratando do individualismo e frieza que cada vez mais os paulistanos precisam enfrentar. Seja para dar uma informação sobre o caminho do ônibus, em qual sentido vai para o Paraíso, onde tem um banco Itaú mais próximo ou quanto custa a pipoca doce. Assim a gente quebra o gelo e ganha uma conversa. Sou fã das conversas sem pretensão, aquele lance de jogar papo pro ar, um assunto que puxa o outro e termina nun nada a ver. Muito agradável cruzar com quem é receptivo. Nada pior do que agüentar gente sem educação, e que destrata por puro gosto, machismo e mania de querer comandar. Quem nega um bate-papo perde a oportunidade de ouvir histórias, saber experiências ou simplismente dar risada. Desses só nos resta sentir pena por disperdiçar uma coisa boa, simples e de graça que essa vida pode nos proporcionar.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A beleza irreverente dos largados


Sempre achei lindo aquelas meninas que namoram caras boa pinta tipo executivão e se vestem bem, são inteligentes, tiveram boa educação. Teve até uma época em que cheguei a ter uma rusguinha de inveja por nunca arrumar um namoradinho desses. Já pensou que beleza você andar pela rua com uma pessoa que tem presença, eu pensava. Pra completar, ficava imaginando o quão legal deviam ser aquelas relações. Os bonitões recitam Fernando Pessoa ao pé dos respectivos ouvidos, tocam Djavan no violão e as levam pro cinema. Que romântico!

Fato é que eu nunca gostei de cara assim e também nunca dei abertura pra nada. O que me atrai e me interessa são os desleixados, malandros, largados. Aqueles que te ganham com o papo mole, não tão nem aí pra padrões da moda, falam gírias, não gostam de estudar, te pegam bem pegado e odeiam poesia. Eu não resisto a um “maloqueiro”. Vejo muita graça e tenho curiosidade sobre os papos alternativos, os gostos diferentes e a maneira esquisita com que demonstram sentimento.

Cabelo raspado, boné, tênis fudido, barba por fazer, calça jeans surrada. Que beleza! Quanto menos comum, melhor. Pior que assim como eu, há vááárias mulheres que são chegadas num maloquinha. O que eles têm que chamam tanto atenção? Talvez seja o jeito diferente de levar a vida. A independência que os cercam, o lema “nun to nem aí mesmo” estampado na cara. O estilo próprio, uma mania singular, a espontaneidade com que lidam com os amigos e zoam sem medo de ser feliz. Tudo isso desperta interesse e faz com que os largados fiquem um degrau acima dos certinhos.

Veja Paulinho Vilhena que ao interpretar o arrumadinho Fred em Paraíso Tropical não arrancava suspiros do mulheril. Atualmente, o ator vive o surfista e largadão Eros na novela das sete Três Irmãs, estampa capa de revistas de fofocas, dá uns beijos em Carol Dieckmann e é só sorrisos para os paparazzi. Esse é apenas um dos vários exemplos de que os desleixados conseguem chamar atenção.

Sinto em desapontar minha querida mãe que sonha com um genro galã do tipo Fábio Assunção. Ela diz que adoraria se eu namorasse com um administrador, ou engenheiro inteligente e bem sucedido. Sempre respondo que sou mais um jornalista, publicitário ou músico. Os certinhos são ótimos pra serem namorados das amigas ou apenas amigos. Quando o interesse é outro, os largados ganham em disparada e, aceitando isso, nunca mais entrei em conflito existencial por causa do assunto.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Rolo do Japão


Sempre adorei a cultura japonesa. Kimonos, chinelinhos, gatos, ideogramas, chás, olhos puxados, cabelos lisos, batchans, nisseis e sanseis. Sobrenomes que misturam H K W.
Saionara, né? Religião budista, valores diferentes, língua estranha. Que beleza passear pelas ruas apertadinhas da Liberdade e sentir que por um momento estou mais perto do oriente. Aqueles postes vermelhos, lojinhas abarrotadas de coisas.

Para um mero turista e fã do oriente isto é sem dúvida uma beleza. Até que um dia as coisas mudam. Empresa na rua Tamandaré. Pelas ruas circulam muitos japinhas e há o cheiro insurportável de peixe no ar. Repórter de rua que precisa arrancar as melhores aspas desse povo milenar. Quanta diferença. Se antes achava uma maravilha a idéia de entrevistá-los, hoje não penso assim. São receosos, lacônicos e te intimidam com o olhar e um sorriso amarelo.

Deu o maior rolo quando uma professora que ensina a tradicional cerimônia do chá entendeu errado o propósito da matéria. Eu iria apenas colher dados e fazer uma entrevista com papel caneta e gravador. Após isso, em um outro dia, gravariamos o vídeo para colocar no site. A campeã entendeu que a gravação seria feita por mim. Chego lá e dou de cara com cinco senhorinhas vestidas de Kimono, meias e chinelos quadrados, andando aqueles passinhos lindos. "Hoje não é agravação!", disse tentando esclarecer. "Como não, mocinha? Tá todo mundo pronto, isso aqui pesa um kilo", respondeu com um voz doce e brava.

Japoneses são muito pontuais. Desmarcar algo em cima da hora ou deixá-los esperando é como um "vai tomar no cú!"na lata. Simplismente não sabia o que fazer. Tentei um jeito de filmar e não disperdiçar todo o trabalho gasto com o engano. Foi envão. Tomei nem sei quantas broncas, todas com um tom de voz digno de Laidys. O sotaque meio cá meio lá dava uma vontade de rir, mas como não sou boba não arisquei abrir a boca.

Não houve gravação, mas depois de muito trabalho consegui arrancar uma entrevista das batchans. Foi ótimo. Elas soltaram tudo o que queria ouvir, riram e até aprenderam meu nome. Nathália, né? Agora olho pra eles de maneira diferente. Japoneses são bem bravos e só baixam a guarda quando percebem enfim com quem estão lidando.

Saionara!



quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Coisas que só acontecem comigo


Não que eu queira ser pessimista, mas tem dia que vai além:

Sexta feira a noite, transporte coletivo bombando, seguia rumo à Rua Dr. Arnaldo.

Trânsito, sacolas e bolsas alheias davam o tom. E é sempre assim, quando você tem um compromisso tipo assim inadiável, surgem vários obstáculos, Lei de Murfhy voraz. Estava com a minha bolsa lotada de coisas. Livro, garrafinha de água, carteira, bilhete único. Eis que não mais que de repente, uma barata voadora entra dentro do ônibus e cai em cima do meu braço.

Canhota, e com pavor de tal ser, dei um grito e bati a mão tentanto tirá-la do meu lindo corpinho. Maaaas, sem querer, joguei a barata dentro da minha bolsa!!! Imaginem só a cena. Quando ví a grande cagada que havia cometido, levantei em disparada e ainda soltei uns gritinhos. O cobrador riu, a mina que estava do meu lado tomou um susto e uma negona que tava lá atrás disse: ei mocinha, tudo isso por causa de uma barata?

Respirei fundo, e, com o maior medo, peguei a bolsa cuidadosamente pelas alças, sem mexer muito. Minha vontade era abandona-la pra sempre, xingar o mundo e ainda dar uma bela resposta pra intrometida que veio dar opinião sem ser chamada. Porém, havia pertences importantes e tive que encarar. Pra completar o espetáculo circense, tinha uns cinco muleques no fundo do busão fazendo piadinhas sobre a minha pessoa. Pedi então a ajuda de uma moça corajosa que topou fechar o zíper. Foi o ápice do causo. Todo Brasil olhou entretido para ela e eu me esquivando pra trás pedia a Deus para que a barata não se mexesse. Enfim a bolsa estava fechada e cada um seguiu sua vida.

Desci a rua de casa na maior velocidade possível. Entrei no apê e fui logo avisando que tinha uma barata dentro da bolsa. "Mãe, tem uma barata aí dentro, me ajuda!" Ela não entendeu nada, mas como não sente aversão ao inseto foi pra lavanderia abrir a bolsa.

Mateei! exclamou.

Pronto, o pesadelo chegara ao fim.
Eu estava mais atrasada do que nunca, mas pelo menos tinha minha bolsa em mãos!

É ou não é azar demais pra uma pessoa só?