segunda-feira, 25 de julho de 2016

faz parte

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Os seres humanos e a necessidade de querer sempre estar aonde não estão. A inquietude da mente, o desejo pelo "lá", a desvalorização do aqui e do agora. Não faz o menor sentido viver engolindo meses e achando que no futuro, sempre ele, é que seremos felizes. Eu sei que quando voltar para o Brasil a maioria das coisas e as pessoas estarão do mesmo jeito de quando sai... eu sei, mas hoje eu queria muito comer pão de queijo e tomar o café de coador da minha mãe sabendo que o Lapa só passa de 40 em 40 minutos e mesmo assim não tendo preocupação, e mesmo assim estaria com a Diná grudada aos meus pés, e a cada gole o pensamento de que "nossa as coisas estão mesmo caras no supermercado, a crise, o Brasil, e o Fora Temer", eu queria, mas eu estou aqui sentada na mesa, a janela lateral aberta, o nublado inglês persistente, a BBC R1 tocando os mesmos pops e eu ensaiando estender a canga no carpete e desenvolver uns exercícios de pilates...

A verdade é que quando a saudade bate não há contagem regressiva que cesse, não há Chilli con Carne que tampe a vontade do pão de queijo quente, não há pop que cale a vontade do samba, e segue tudo isso o misto de crescimento e aprendizagem.

Eu não quero contar dias, eu quero sossegar minha cabeça e curtir o agora, eu desejo fazer curvas nessa reta, eu não aceito o morno e nem  a acomodação, por mais metas e objetivos que eu tenha feito, a vida é mais além, mais além que esse ensaio de texto, esse desabafo,

Nada como ficar sem algo para valorizá-lo, não é mesmo?



quarta-feira, 13 de julho de 2016

O aprendizado diário de quem é imigrante



Decidir morar fora do Brasil vai muito, muito além de aprender outro idioma e conhecer outra cultura, ainda que esses sejam os principais objetivos para viver essa experiência. A começar pela super glamourização que os brasileiros têm sobre a ideia de que viver em outro país é sempre uma grande festa, com muitas realizações, amigos pra dar e vender, além do idealismo de que ser garçom ou babá e ganhar uma grana honesta com esses trabalhos seja muito melhor do que continuar a batalhar pela carreira sonhada no Brasil. É óbvio que esse texto é sobre a minha experiência pessoal, do ponto de vista de uma jornalista de 29 anos, e também vale ressaltar que é totalmente diferente quando você faz uma viagem desse tipo aos 15, aos 20 e aos 30 anos.

Eu sou Brasileira de carteirinha e coração, tenho percepção de como algumas coisas vão mal no meu país, mas sei valorizar os diversos pontos positivos que ele possui e isso tem sido um aprendizado enorme: não comparar tudo com o Brasil e aprender que os Ingleses definitivamente não são como os brasileiros (e nem nunca serão). O povo brasileiro é vivo, alegre, falante, de fácil trato e tem prazer em hospedar quem quer que seja. Tem um pouco daquela coisa de síndrome de vira-latas que ao ver algum Europeu faz de tudo para que ele se sinta em casa, dá um jeito de fazer mímica e tenta até falar a língua extrangeira. (Brasileiro é foda!)

Com os ingleses não é assim. Com os ingleses do interior não é assim de jeito nenhum! Salvo algumas exceções (amigos do meu namorado que trabalha numa empresa daqui) é muito difícil fazer amizade, são quase 3 meses morando aqui e apenas uma vez fizemos amizade com um senhor que veio conversar conosco em um bar. Nos outros dias, seja andando na rua, parando em uma lanchonete ou estando na biblioteca, não conversei com ninguém. Vale dizer que após a saída da União Européia a xeonofobia cresceu e eu sinto o distanciamento deles aumentar com quem é estrangeiro.

Manda mais que tá pouco! 

Continuo aprendendo que não ter grandes expectativas ou exercitar a aceitação poupa várias lágrimas. Não é fácil. Tem a vergonha de falar errado, tem brincadeiras e piadas internas que não entendo (e eles não explicam), tem que saber lidar e conversar com quem realmente quer conversar comigo, tem que desconstruir a ideia de que a Amazônia não é perto de São Paulo e que o Brasil não é só samba, Carnaval (infelizmente) e futebol. E haja paciência para esperar a indicação do amigo do amigo que tem um restaurante e pode me arranjar um trabalho, ou a amiga da cabeleireira que ficou de falar com o namorado pra ver se consegue alguma coisa. Os dias vão passando. Enquanto isso, "tem que assistir TV e séries e inglês", eles dizem, "tem que sair sozinha e ir se virando por aí", eles dizem, mas ninguém diz que dá um desespero danado se você não sente que a coisa está fluindo. Não é tão simples sair por ai sozinha e se sentir ignorada. Tem que saber também que nem sempre você será a mesma pessoa que era no seu país de nascimento. A Nathália desinibida e cara de pau brasileira ainda não apareceu por aqui e tome mais aprendizado sendo tímida e falando pouco.
Falando ainda sobre as expectativas tem também as expectativas de outras pessoas (principalmente pai e mãe) que veem na viagem uma oportunidade de enriquecer, juntar dinheiro ou tirar um visto permanente e não voltar nunca mais porque para eles viver no fora do Brasil é muito melhor. La vai eu tentar explicar que nada é tão fácil como no filme do Telecine e sou julgada de "pessimista ou reclamona de barriga cheia".

Saudades


Viver fora do país também me ajuda a enxergar o tamanho desse mundo todo, a importância das minhas amizades, tenho descoberto saudades diferentes (nunca quis tanto um pão de queijo na vida!) e praticar o autoconhecimento tem sido atividade diária. É chato saber que meus amigos estão em Festas Juninas enquanto na Inglaterra chove a chuva de todos os dias e eu me contento com as fotos do Instagram e a playlist do Youtube. Mas é também valioso saber que eu sou mais uma dessa multidão e que não faço tanta falta assim (sem mimimi), quem parte é que aprende a enxergar isso, quem fica segue vivendo a caminhada. Receber um áudio do Santo Forte, ou uma foto de alguém que foi no forró e lembrou de mim reafirma minhas raízes, de onde eu vim e pra onde vou voltar, já que com tantas emoções é fácil esquecer esses fatores importantes.

Como eu disse no começo do texto o aprendizado é árduo e diário, mas é também maravilhoso. Dia desses estávamos tomando sol no gramado em frente à enorme catedral. Era fim de tarde, não tinha mais ninguém ao nosso redor e ao mesmo tempo em que eu olhava o topo da igreja eu senti uma sensação boa de quem sabe que tudo é passageiro e que não há o que temer (fora Temer!!!), a gente tem mais é que tentar ser feliz mesmo diante das dificuldades.

E só pra finalizar: eu também tenho aprendido que exercitar alguns clichês é fundamental, mas a gente tem mania de desprezá-los.