13 de dezembro de 2010. Lembro a data porque Luiz Gonzaga nasceu nesse dia e forrozeiro tem dessas de lembrar essas coisas. Era uma sexta-feira e a felicidade batia fundo, mas a ficha não caia. Foi o dia em que iniciei um relacionamento sério com meu Ford K 1998 vermelho, a coisa mais linda do mundo. Sabe criança com brinquedo novo? então era eu. Meu pai voltou dirigindo porque fazia um ano que eu não tocava num volante. Passaram-se vários dias, Agnes me dando força moral rs, até que eu finalmente comecei a chamar o carro de meu e aos poucos fui ganhando a cidade.
Sempre com o jeito Nathália de ser: com muito medo de subidas, eu estacionava o carro e pedia pra alguém me ajudar. Fiz isso umas boas vezes, sem medo, sem vergonha, sabendo que chegaria o dia em que eu conseguiria segurar o carro numa ladeira sem puxar o freio de mão, controlando pela embreagem. A cada vitória o gosto de independência surgia doce e forte. Sendo um Ford K e meu apelido Catarina, o carro ganhou o nome de
Catarino e a dupla estava formada.
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alegria na chegada ao Roots 2011 |
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Partiu Roots! |
Foram dois Rootstocks levando feliz a trupe de amigas, diversas idas a Osasco, supermercados com a Margá, Remelexos, Santos Fortes, idas a Camburizinho e meu apego só crescia. Cada peça que quebrava era um pedaço meu que ia embora, cada raladinha doía fundo no coração. Catarino é meu mascote e ganhou o coração do Benjamín que sempre pergunta: E o Catarino, Nathy?
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Pelos bailes da vida |
Em fevereiro de 2013, logo após o Carnaval, quando ainda chovia muito nessa cidade cinza, eis que uma enchente histórica inundou o Butantã e suas adjacências. Catarino estava estacionado bonitinho na Av. Caxingui e quando cheguei de noite para buscá-lo o vi boiando no aguaceiro. Era como se alguém da minha família tivesse morrido, desesperada, chorei ligando para o seguro que me informou que "o seguro não cobre danos naturais, senhora". Foi uma longa noite até amanhecer e eu conseguir resgatá-lo com o guincho. Felizmente nenhuma peça grave morreu e depois de muitas lágrimas e reza Catarino voltou para o seu lar. Mas depois desse episódio ele nunca mais foi o mesmo. :(
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apenas LIN-DO! |
Nunca mais foi o mesmo, porém seguiu sendo o velho carro vermelho amado e guerreiro que sempre foi. Levei Lóris algumas vezes ao veterinário e outras para passear, ajudei Demis em duas mudanças e inclusive levei nele tudo o que era meu para a minha casa no Caxingui, quando saí da casa da minha mãe. O papel que esse carro tem para mim é gigantesco. #Catarinomuitoamor.
Só que como todo carro ele também tem sua vida útil e eu não posso esquecer que já faz 16 anos que ele roda por aí. Há um mês, como nunca antes nesse país, Cata começou a dar problema, muitos problemas. Bomba de combustível, rolamento das rodas dianteiras, amortecedores, válvula do termostato, e eu ficando à deriva pelas ruas. Já chorei muito, mas já fiz muitos amigos nessa saga. Frentistas e mecânicos que, machismos à parte, sempre foram solícitos para tentar me explicar o que estava acontecendo (porque se tem uma coisa nessa vida que eu não entendo, é de mecânica). Mas a verdade tem que ser dita: Catarino precisa descansar. E eu preciso ser menos apegada e sentimental e entender isso de uma vez por todas. Não, não vai ser fácil viver sem ele.
Meu pai sempre falou muito de seu primeiro carro e o quanto o marcou. Um Fusquinha amarelo
CV 1264, que ele fez questão de me fazer gravar na cabeça. Até minha mãe tinha amor pelo Fusca. Agora entendo isso: não é só um carro, uma lata que te leva daqui pra lá. Eu ainda não vendi o Catarino, mas novamente ele está no mecânico e eu já não posso mais. Depois da Lóris, ele é o meu segundo talismã.
Fazer texto homenageando o carro pode? Pode sim, pode muito! Jamais esquecerei dele e de quantas histórias passamos juntos.
S2