quarta-feira, 27 de agosto de 2014
Sem o efeito blur, por favor
Há dois anos atrás se eu fosse questionada entre escolher uma paixão enlouquecedora ou um relacionamento estável eu gargalharia segurando meu copo de catuaba na mão e diria sem titubear: É ÓBVIO QUE A PAIXÃO, estabilidade é coisa de velho. Paixão, loucura, sofrimento, fogo etc etc, quem não curte? Mas assim como o tempo passa, as vontades passam e as experiências surgem, pareço a velha da praça contando história e por incrível que pareça é exatamente o que sinto. As coisas passam. A vida vai se encarregando de seguir seu rumo e onde havia desejo passa a haver desilusão.
Palavras, poesias, sonhos, nuvens em forma de escritas, sensações únicas, dias fora do contexto, é apenas maravilhoso viver assim, mas e aí? É preciso muita gana, vontade e sobretudo paixão pra passar por cima do real, viver uma história de novela e se jogar no abismo do desconhecido. Precisa de uma força descomunal pra acreditar em valores, crenças e verdades de alguém que surge na sua vida do nada e passa a tomar um espaço grande. E eu fui seguindo, segui sem medo, sem âncora no pé, acreditando em algo tão meu que meus ouvidos não ouviam o alheio, ouviam somente o coração. Um filtro blur deixou a vida diferente, mas e aí?
Esse 'e aí' surgia sempre lá do fundo da minha consciência, em momentos de desespero e lágrimas e que me pegavam quando algo errado acontecia. Mas a paixão é assim mesmo não se ama sem se lascar, é preciso bastante dor pra valer pena, não é? Era isso o que meu coração respondia para minha consciência.
Até que minha consciência começou a falar mais alto, mais forte, e meu coração novamente questionava: você racional? senta lá Nathália. Fui aos poucos descendo da nuvem de escrita e voltando para o mundo real, tirei o óculos de sol com blur e enxerguei à minha volta um cenário pesado do qual eu jamais quis fazer parte. E aí?
E aí que me dei conta de que mais uma fase da minha vida tinha passado e que aos poucos o que eu queria não era o que estava vivendo. Coração bobo, coração bola, cutucava pra saber se era realmente aquilo mesmo. Sempre ele me fazendo as piores perguntas.
Entre viver um sonho de romance espanhol e a realidade batento à porta o que faz sentido agora são parcerias inteiras ao invés de pela metade, amores viáveis e não impossíveis, transparência e não trama, tranquilidade sem noites em claro, confiança e não descontrole emocional. E eu sei que é possível apaixonar-se por aquilo que nos faz bem e não sangra. Ter isso maduro no coração faz toda a diferença. As novelas que fiquem lá na televisão, tô tranquila de histórias surreais. Talvez eu tenha envelhecido, talvez eu tenha ficado chata e ponderada, mas aqui cabe um clichê: ou soma ou some.
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