domingo, 1 de março de 2009

Sobre a tal da classe média


Era bem grandona, robusta, dessas que todo mundo diz que é a típica mulher brasileira. Morena, cabelos cacheados e uma boca larga com todos os dentes do mundo. Nem rica nem pobre, tinha o que precisava para sobreviver de maneira digna. Amigos de verdade não enchiam uma mão inteira, mas de conhecidos estava rodeada. Até que era feliz.

Mas o que não a conformava era a tal da desigualdade social. Ficava pensando nisso muitas horas do dia. Tudo porque inventou de cursar uma graduação cara e que tinha bastante nome no mercado. Ao invés de fazer novas amizades, ou viver a época do riso grátis, se deparou com muitas pessoas diferentes de seu cotidiano. E as panelas não davam margem para que ela tentasse se enturmar. Tampouco tinha paciência para adulações baratas e abraços falsos. A maioria viajada, falava outra língua, usava a roupa da moda, o cabelo da moda, o tenis da moda, o Ipod da moda, essa tal de sociedade xérox que cada vez mais ganha adeptos.

E no caminho de volta para casa pegava um coletivo lotado e cedia lugar aos idosos ou mães que carregavam fihos pequenos nos braços. Ia atravessando os bairros e vendo como é estranho e ao mesmo tempo engraçado essa vida de metrópole e classe média. Uns com tantos, outros sem nada e ela no meio. Tinha mais que os humildes e menos que os maurícios da classe. Mas não podia ficar se queixando, afinal das contas, estava lá por mérito de seus próprios estudos e mesmo os que faziam parte do ciclo da moda tinham condições para isso e da mesma maneira que ela, batalhavam por um lugar ao sol no famigerado mundo dos empregados. Levantou da segunda baldiação e caminhou por uma rua querida.
Sinceramente se sentiu impotente. Não conseguiria fugir do sistema, não tinha pique pra lutar por um mundo melhor, talvez fosse mais fácil viver sem pensar em questões sociais.
Uma andoria sozinha não faz verão.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tocada. De verdade.

Parabéns!!!