quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Até quando?


Hoje faz uma semana que a ciclista Márcia Regina Prado, 40 anos, morreu atropelada na Av. Paulista. Não fosse eu ter visto o corpo estirado no chão e os milhares de curiosos tirando fotos com o celular, não fosse eu olhar a cara de desespero do motorista que quase foi linchado, não fosse o local de o acidente ter acontecido num dos cartões postais dessa cidade, esse acidente seria apenas mais um dos milhares que acontecem São Paulo a dentro. Seria mas não foi.

Fiquei chocada com a cena. Deu aquele estalo que bate na gente quando as situações são incomuns e vemos como a vida é frágil. Não dá pra saber quem estava certo ou errado e simplesmente defender um lado da história. O fato é que os ciclistas não têm espaço aqui nesse cotidiano cinza. Sampa se tornou uma cidade preferencialmente habitada por carros, e os números estão aí pra quem quiser conferir. Todo dia uma maré de automóveis é vendida. Dá medo pensar em pedalar em vias muito movimentas ou em horários de pico, e depois de saber desses acidentes então, aí a idéia desaparece.

Márcia, além de massagista, era cicloativista e participava freqüentemente das bicicletadas que pedem espaço e atenção para os ciclistas. Seu corpo foi doado à Unifesp para estudo. É triste ver que essas histórias acontecem aos montes e as pessoas viram estatísticas. O acidente foi feio, duas vidas marcadas pra sempre. Horas depois a maioria dos engravatados seguiu rumo ao seu trabalho, cada um cuidou da sua vida como se quase nada tivesse acontecido.

Nos acostumamos a viver anestesiados, conformados com questões que saltam aos olhos e parecem não ter solução. Seja pelos vários acidentes de trânsito, pelas crianças que pedem dinheiro no farol ou deficientes físicos que se arrastam pelas ruas atrás de alguma ajuda. É chocante, mas estamos atrasados para a reunião. O corpo estirado no chão ficou na minha cabeça. Não sei se há o que fazer, não posso ignorar as várias passeatas que surgem como forma de protesto, mas é pouco ainda. Enquanto esse sentimento de descaso e impotência continuar dominando a capital, tanto por parte da população como também a dos governantes, mais acidentes continuarão a acontecer.


São Paulo também me entristece.


2 comentários:

Leo Durval disse...

Infelizmente quando uma noticia é boa não vira noticias na midia em geral;
Infelizmente a vida de um ser humano não vale quase nada num mundo pós-modderno.

Parabens por sua reflexão

Leo Durval disse...

Obrigado também, vc é uma ótima letrista e interessante tb seu blog, tudo d ebom