terça-feira, 24 de abril de 2018

Far far away


Há quanto tempo não te escrevo? Quando foi que nos distanciamos desse jeito, mesmo com a proximidade? Eu sem vontade de te assumir, sem querer contato, um contato que antes era tão apaixonado, iludido, rico em sonhos.

Fato é que nós mudamos, tanto eu quanto você. Não era assim que eu tinha imaginado e eu odeio quando os planos não saem do jeito que eu quero, você sabe disso.
O outono me inspira e me traz vontade de escrever, registrar cada amanhecer e por de sol lindo, mas a galera anda só olhando pro celular, e quando reparam no entardecer é pra postar no storie. Hoje no almoço reparei que além do celular, a galera está triste, olhar perdido, ali comendo, imersos em mais uma hora de almoço.

Dia que vai, dia que vem... o final de semana se aproxima, o feriado chega, o outro mês se inicia... e o horário de almoço, bater o ponto, entregar o relatório, e o final de semana, o feriado e um outro mês.

Não sei se a culpa é totalmente sua, mas eu não acredito mais nesse tipo de felicidade, pra mim soa como uma felicidade fake. Felicidade comida bonita, cerveja artesanal, samba de gente chique. Felicidade hambúrguer artesanal. E tome cheque especial, juros, salário abaixo da média, tome reforma trabalhista, linhas de ônibus cortados, filas intermináveis nos hospitais, pane no metrô. A galera sobrevive, consegue viver dois dias por semana, a qualidade de vida vai pro ralo, mas o feed tá ó, maravilhoso. E editado. Com filtro e hashtag pra gerar mais like. 

Nos meus longínquos planos a vida era pra ser mais viável, mais transitável, sem luxo, mas com conforto. Com paz, com um tempo, por menor que fosse, um tempo pra poder cozinhar. Mas aqui quem dita a regra e tem esse tempo é quem tem grana, de uma família que nasceu com grana, com um avô que conseguiu fazer grana quando isso era possível aqui.

Os anos vão passando, vou vivendo cada estação, todas as partes boas e as dificuldades, a falta de grana recorrente, o desperdiçar dos minutos dentro de um vagão com milhões de pessoas indo sei lá pra onde, focadas em não sei o quê, na tela de um aparelho móvel.

A vida é uma só, dizem.
São várias as vidas, a gente retorna pra resolver umas paradas, dizem.

É preciso fazer planos pro futuro, dizem.
Mas sinceramente, SP? Meu futuro está longe de você.

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