Este meu texto foi publicado no Brasil Post no movimento #agoraequesaoelas. O feminismo é um combate árduo e diário, mas só com muita discussão viraremos esse jogo!
Quatro dias de intensa farra, liberdade, desprendimento, diversão e fantasia: o Carnaval é o momento mais esperado do ano por mim e por tantos que eu conheço. Gosto tanto que até criei uma máxima: "Não há nada como o Carnaval". Mas também não há nada como o machismo do Carnaval. Porque se tem uma coisa que os caras não entendem é que é possível você estar ali no meio do bloco e não querer beijar ninguém, e não querer que nenhum cara encoste em você. "Mas veio pro bloco fazer o quê?" É o que eu e minhas amigas temos que responder incansáveis vezes, isso quando eu não preciso usar de força física e empurrá-los pra bem longe mostrando que não estou afim de contato.
É difícil, e o pior é que eu sinto que já estou acostumada com essa aporrinhação carnavalesca que, ainda bem, é minimizada pela sensação de chegar ao final de mais um percurso suada e muito feliz.
O machismo (infelizmente) impera no Carnaval. A ideia da liberdade e da folia faz com que muitos homens se achem no direito de chegar, agarrar e simplesmente beijar uma mulher. Eu pulo Carnaval há vários anos e é com alivio que sinto uma crescente diminuição desses ataques mais bruscos, mas ainda assim em 2015 bastava olhar para o lado e ver alguma mulher se defendendo, chamando os amigos homens ou fingindo que tem namorado. Eis um outro ponto muito chato: ter que mentir e fingir que estou acompanhada de outro homem porque só assim o cara vai entender. O respeito não é para mim e sim para um outro homem, fala sério!
E como lidar com os bêbados? Uma vez durante um bloco em Cerquilho um cara chegou literalmente puxando o braço de uma amiga e eu e mais um amigo tivemos que intervir até que ele fosse embora. Algumas amigas me perguntam se eu não tenho medo de ser agredida.
E a verdade é que na hora minha revolta é tão grande que supera qualquer temor. Tanta coisa poderia ser diferente. A começar pela própria mídia que usa o corpo das mulheres (sejam foliãs, passistas ou rainhas de bateria) pra gerar ibope e clique. Durante a transmissão das escolas de samba é nítido o enfoque que os cinegrafistas e fotógrafos dão nas bundas e nos peitos. Sinceramente: qual a necessidade disso? E todo ano é a mesma coisa: o maior destaque no Carnaval é para as mulheres e não para a festa em si.
A mudança deveria ser de um todo e em todos os cenários. Ainda bem que os amigos que pulam carnaval comigo já sabem que é pra deixar as mulheres em paz e somente se houver interesse de ambos, ai sim, ai vai com vontade!
Faltam somente dois meses para mais uma Festa de Momo, ansiedade e coração já ansiosos por mais quatro lindos dias de festa na rua, mas espero francamente que os homens se conscientizem de uma vez por todas a importância de deixar as meninas em paz!
Fica a dica: Mais vale um folião sozinho do que um mala nos irritando!