segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Dias tristes

(...) Lembro de serem preparados em duas cozinhas simples, mas tinha sempre um ovinho mexido no café da manhã. Cada dia a receita era feita de um jeito diferente. Às vezes só temperos, outras com queijo misturado, ou só com cebola. Era um café da manhã humilde, mas desgustado com muito amor. Fossem dias de chuva, sol a pino ou em temperatura ambiente. Em prato de plástico eram servidos os ovos mexidos quentinhos. Que era uma forma de acolhida e sentir o coração do outro perto de mim. Antes do trabalho, da reunião, do passeio na praça, do banho no banheiro sem boxe. Agora na cozinha ampla e bonita não tem mais ovo. Não tem mais tempero, nem tomate de acompanhento. Não tem mais a companhia de outrora. Tem solidão, um ovo sem gosto e pra completar algumas lágrimas. Pra não esquecer que a vida também é feita de dias tristes. (...)

Um comentário:

Dremis disse...

a memória é tempero de desgosto. o sal é presente feito na mão, pego na mão, entre os dedos, ao tato. a memória se refaz a cada mexida do ovo. todo dia há um ovo. um novo ovo, cada dia. o calor que derrete o tempo. não há esquecimento. é vida.