quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Sem maquiagem, por gentileza!


Maria Eughênia era daquelas moças de família tradicional que não se encaixavam no contexto. Típica ovelha negra, sabe? E causou o maior bafafá nos Mendes Castro ao não se comover com a morte da avó. Tudo porque a velha era ruim desde o dia que se conheceu por gente. Fofoqueira, interesseira, destratava os oito netos e só dava importância para Augusto, filho de seu filho mais rico. Com ela era assim, ou jogava-se do seu jeito, ou era carta fora do baralho.


Desde sempre Eughênia criara certo desafeto pela velhota e não tinha medo de mostrar pra ninguém. Bem criada, se portava com respeito, mas a língua era afiada demais para fingir que nada escutava. E quando vó Anastácia teimava em pegar no pé, choviam palavras ásperas pelos lábios da morena jovem.


Um dia, que começava como outro qualquer, Anastácia bateu as botas para o alívio (ainda que mascarado) de todos os Mendes Castro e adjacências. Os filhos, parentes, vizinhos e moradores de uma antiga vila de Pirituba foram em peso ao velório da má avózinha. Mas Maria Eughênia não queria ir pois disse que havia outras coisas para fazer. Já que a avó nunca lhe dirigiu uma palavra de carinho ou que prestasse, que fosse embora logo sem mais demora. Sua mãe e seu pai não concordaram com a atitude da filha, e fizeram com que ela fosse na fúnebre cerimônia. Sem derrubar uma lágrima Eughênia chegou perto do caixão, olhou o rosto lângüido da vó e seguiu adiante. Ouvia-se um burburinho dos parentes mais abastados. "Nunca ví uma jovem ser tão fria, sem sentimentos". "Ela não é flor que se cheire, poderia ao menos disfarçar hoje". Esse tipo de coisa que toda família tem. Mania de por embaixo do tapete as verdadeiras opiniões.


Talvez Anastácia fosse coração de pedra por ter a criação que teve. Com a herança do pai teve vida boa sem precisar de muito. E criou os filhos do jeito dela, achando que amor, afeto e coisas do gênero eram supérfluos. Pois bem, a moradora da zona norte paulistana já não fazia parte desse mundo. A neta caçula não se conformava com tamanha falsidade dos parentes. Continuou com a cara de parede para quem quisesse ver. Quando finalmente o enterro deu-se por terminado, Maria Eughênia se viu mais leve e em sã consciência exclamou: "Finalmente o peso que empatava nossas vidas foi embora. Sejamos felizes sem precisar esconder nada."


Assim como os Mendes Castro, existem muuuitas famílias que ficam se maquiando só para posar de unidos e fatiar o peru natalino. Em pleno 2008, será que precisamos de tudo isso? As pessoas preferem se acomodar com a mentira do que serem transparentes. Bobo de vocês achar que Anastácia não sabia que era odiada. Ela fazia de propósito e agüentou firme até o último minuto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não consigo parar de rir, Eughênia, digo, Nathália.