domingo, 14 de junho de 2020

Os Quindins de Rose Helena



mil significados

Era uma caixa branca, tamanho médio, e chegavam geralmente às sextas-feiras, no final da tarde, inaugurando mais um final de semana. Dentro, a imagem da felicidade absoluta: Quindins frescos, amarelinhos, brilhantes, de dar água na boca.

Rose chegava animada, guardava a caixa na geladeira e ia perguntando como tinha sido nosso dia.
Eu estava ou muito feliz ou pra morrer, já que o coração de um adolescente bate somente nesses dois compassos. Depois a gente ia decidindo qual seria o plano daquela sexta à noite: pizza ou esfiha em casa ou cerveja na churrascaria com música ao vivo, tudo no nosso amado Butantã. Foi nessa época, eu com meus 16 anos, que fui descobrindo a importância da cooperação, da acolhida, a importância da família.

Em dias de festa de aniversário, os quindins também apareciam, mas ficavam pro pós festa.
As reuniões eram animadas e a zueira começava sempre na hora de arrumar a casa, quando Rose erguia todos os móveis pro alto e colocava Nova Brasil FM pra tocar alto! Certamente meu lado MPB hippie foi consolidado naquela casa. Não tinha uma Gal ou um Raul que passassem batidos! Sem falar nas festas em que surgia o Karaokê e aí a zorra estava formada.

No final, quando todos os convidados haviam ido embora, era a hora de tomarmos uma cerveja só entre nós cansados, bêbados, mas muito felizes.
Quantos aniversários passamos ali?
Quantos banhos, quantos afters, quantos sonhos e desiluções vivenciei naquela casa?

Tão sutil e profundo, o partilhar de um simples quindim: um milhão de significados.

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