sexta-feira, 9 de março de 2018

Sem dinheiro

Sem dinheiro eu fiz tanta coisa, mas tanta coisa, que fico me perguntando porque o sofrimento, porque a gente fica tão mal sem essa merda, pq isso nos deixa com sensação de fracasso, porque isso nos abala tanto?

Desde 2015 minha vida financeira está uma verdadeira zona e mesmo assim: fiz um puta curso de inglês, morei sozinha, vendi meu carro e morei em outro país, sem dinheiro em outro país me desenvolvi como babá e trabalhei como faxineira, sem dinheiro voltei pra esse brasilzão que chafurdava na crise e segui sem emprego formal, segui sassaricando pendurada num arame, sem dinheiro mudei de estado, morei no Rio, dividi marmita na praia, fiz amizade e abri uma conta num quiosque, sem dinheiro fiz compra no Mundial juntinha da população carioca de baixa renda e nem por isso passei fome, e nem por isso deixei de rodopiar no salão e muito menos tomar minha cerveja.

Sem dinheiro eu trabalhei com festa com criança e segui babá, segui assessora de imprensa, segui fazendo release, segui jornalista escrevendo matéria, segui voluntária entrevistando justamente quem estava no mesmo barco que eu: sem emprego, sem dinheiro e sem esperança. Sem dinheiro eu aprendi a economizar, a driblar a ansiedade, aprendi a dever e a pagar depois, sim, isso é um grande aprendizado uma vez que a sociedade te cobra a pagar tudo certinho num país que voltou a habitar a linha de pobreza e tem gente morrendo de fome em pleno 2018.

Lembro da minha avó Marina que pagava rigorosamente seu carnê do Baú, não deixava nenhum em aberto, penso na minha mãe, que sofre se dever R$ 01,00 para qualquer pessoa e vejo que esse sofrimento não nos leva a nada. Minha parte eu segui fazendo, mesmo sem dinheiro e mais um ano veio e eu segui no sassarico. E nem por isso deixei de pular meu Carnaval, nem por isso deixei de comemorar o meu aniversário, nem por isso deixei de ser eu. Dinheiro é bom e todo mundo gosta, mas se você passar por uma crise fudida e achar que vai morrer por causa disso eu tô aqui de prova pra te dizer que não vai!

Ficar sem dinheiro é horrível, é angustiante, é infernal. mas isso não te diminui, pelo contrário, isso de uma forma ou de outra, que só agora consigo sentir e entender, te dá mais força. É claro que nesse tempo eu paguei juros pra caralho, eu joguei umas contas pra frente, eu esperei o cartão virar e tive sim que pedir dinheiro emprestado em algumas raras exceções. mas aprendi que mesmo sem dinheiro eu fiz coisa pra caramba!

é aquela música do Frejat:

"Eu desejo que você ganhe dinheiro
Pois é preciso viver também
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmo o dono de quem"


e eu tô aqui vivíssima pra dizer: alô dinheiro quem manda em você sou EU.



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