segunda-feira, 23 de julho de 2018

O mesmo sol de inverno

A luz do sol de inverno que bate e invade o quarto faz lembrar o mesmo sol de outono de um outro lugar. A mesma luz, outra alegria, uma ansiedade diferente dessa de agora. Pela janela que reluzia a grama e esquentava a cortina vermelha, quanto sonho foi realizado? Tantos sonhos novos vividos, o tempo passa, a gente nem se dá conta. Naquela casa o calendário tinha uma data marcada, rabiscada em tinta azul, tal e qual a história da Cinderela: hora para começar e terminar. Agora, pela avenida movimentada rumo a um trabalho qualquer, o mesmo sol de outono faz reviver a antiga sensação. Hay que ter outros ares, outros caminhos, outros endereços, uma grama diferente, o parapeito largo de uma janela térrea, cortina em veludo? tão anos 80, tão saudade. A janela da cozinha abria de um jeito estranho, quebrava o vento, era lavada pela chuva. O mesmo sol aquecia as pias livrando a torneira quente do trabalho. O fogãozinho, as bancadas todas, tão lindinhas que cada dia podia organizar de um jeito, mesmo quando com tudo bagunçado era tambémém uma forma de organização. As pastilhas coloridas, os armários: um pras coisas gostosas, um pras panelas, o outro acima da geladeira, esse para as bebidas. Tantas vezes lavou a louça preocupada com o trabalho que não vinha, com a palavra que custava a sair do jeito certo, e tinha a conquista pela liberdade, a segurança pra vagar de bicicleta. No fim do dia o sol ia abaixando, era o horário de preparar o jantar. Mil receitas, o básico, ou as porcarias, foda-se! isso aqui é um sonho, sonho vive-se do jeito que a gente bem quiser. Agora um som indie rola pelo fone, acorda da recordação e volta para o modo de vida normal. Que bom ter memória, que bom poder (re)vive-las, que bom que há sinestesia.




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