sábado, 28 de julho de 2018

Futuro memória

(...)  Acordei, abri a janela e senti novamente o silêncio do vilarejo, apenas o barulho dos pássaros que nada me incomodava. Aqui o verão  aquece a pele na medida certa: nem muito, nem pouco. Mais um sábado vago com mil possibilidades, inclusive a trivial de ler enquanto tomo meu café e bato as roupas mais importantes. São 13 anos vivendo aqui e somente as vezes é que sinto falta do barulho do Brasil, meu pai escutando seus áudios idiotas, o barulho do banheiro - aliás, peguei trauma de ter meu quarto ao lado de banheiros - a botinha dele batendo no chão enquando arrumava-se para mais um sábado de trabalho. A memória também faz barulho. Kevin diz que vem para preparar o jantar, é bom ele trazer um vinho de qualidade para se redimir após a palhaçada da última semana. De todos os que surgiram do lado de cá do oceano, com certeza ele foi o mais certeiro. Aurora faz a lição de casa sem eu precisar implorar, deus seja louvado. Esperta como eu, completa o abecedário rapidamente para ter mais tempo em ficar com suas bonecas. Minha filha tem um par de olhos verdes vivos e uma meiguice que certamente não puxou a mim. Linda, me enche de orgulho assim como Benja me enchia também. Aliás, já tem uma década desde a última vez que aquele safado fez skype comigo. Preciso preparar o material das aulas da semana que vem, preciso ir até a venda comprar frutas para a sobremesa de mais tarde. Sábado em silêncio, sol e a vida que sempre quis ter: o gosto da realização desce doce pela garganta. (...)






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