Morta com farofa, acordei no Leblon e segui sentido Barra logo às 8h da madrugada. Os olhos com resquícios da noite anterior. Precisava dormir.
Advinha? Dentro do ônibus era o sol que saia depois de 4 dias initerruptos de chuva. Dormir pra quê, eu vou é pra praia! Não há nada como o mar, mas o mar da Barra é tipo aquele cara marrento da turma. não tá pra brincadeira. Deitei no sol e torrei como se não houvesse amanhã.
Me despedi da brancura herdada da Inglaterra, comparei a areia branca nossa com a areia preta deles. O mar do Rio de Janeiro é sempre um remédio pra qualquer mal, cura tudo. E eu muito cansada, precisava e deveria dormir. Só que é tudo ao contrário e eu engatei a primeira marcha e segui o dia.
Meu plano era pegar a praia até o sol se por e ir dormir pra no outro dia voltar pra São Paulo.
Qualoquê.
Isadora me manda mensagem me agitando e eu dizendo que não tinha condições nem físicas e nem financeiras pra ir em algum lugar. "Mas eu te pago," cutucou a escorpiana. Óbvio que aceitei a propoxta e comecei a armar mais um rolê. Estudantina na Lapa, forró clássico, forró carioca, vamo ver qualé.
Meu corpo ardia reclamando de toda a exposição ao sol, mas sabe que nem liguei, me besuntei de creme, peguei minhas malax e parti sentido Lapa. É o coração que começava a pulsar.
Porque nessa viagem eu achei que tinha sido curada pela tórrida paixão por Lapa e suas adjacências, tanto é que nem fiquei triste de não ir pra lá. Mas quando é pra ser, é e pronto. No meio do caminho fui orientada a pegar o famoso "433", ou para os íntimos, o "quato teix teix", melhor busão do mundo que vai sentido Lapa e Santa Teresa; Ai meu deus, lá vou eu! até foto do ônibus tirei, aprendi na Inglaterra que turista bom é turista que tira foto de cada canto.
Pois bem.
Saltei nos arcos da Lapa e fui conversando ali com meu bairro que eu estava mortinha de saudades; Eu sou dessas que conversa com os lugares. Tirei foto dos arcos, sentei num botequim pra esperar a Isa, senti novamente a necessidade daquilo ser uma coisa normal, porque quando eu sento num bar em Pinheiros pra esperar alguém eu não sinto nada especial. Especial em São Paulo é quando eu vou no Santo Forte e arrebento meu pé de tanto dançar, mas entre os afazeres normais, em SP tá tudo meio OK. E essa sensação de pertencimento, essa ligação, eu sei lá como explicar isso, mas eu quero muito ter a experiência de morar lá.
Isa chegou toda linda, magrinha, cabelão. Maravilhosa, adoro ter amigas gatas.
Paramos pra tomar um caldo e nos agilizamos pra partir pro Estudantina.
Chegando lá começa o descontrole:
(O combinado era que a Isa fizesse meu rolê pq eu estava dura, lembram?)
A portaria do Estudantina só aceitava dinheiro.
Isa só tinha cartão.
Eu tinha uns trocados pra pegar o busão sentido rodoviária.
E agora?
Paramos na Praça Tiradentes pra consultar os taxistas sobre o que fazer. Ai disseram que sairia
R$ 20,00 pra ir até um 24 horas. Ai ai ai. Haja saco!Carioca adora dar caô em turixta, mas aqui não violão.
Isa disse que tinha tido uma ideia e eu segui de mala e cuia pra porta do rolê pra esperá-la.
Volta ela com dinheiro de um trambique que fez num bar.
Na porta do Estudantina pela segunda vez:
- Agora já passou das 23h, é 20,00 cada uma.
- Quanto você tem ai, Isa?
- Ai só tenho 30 (antes das 23h cada uma pagaria R$ 15,00).
- Ai não acredito! ai moça ajuda a gent...
- Não posso.
Eu irritada já maldizendo aquela merda, comecei a juntar todas as minhas moedas.
Faltava 2 reaix.
Ia pedir emprestado quando um moço atrás da fila se compadeceu e nos deu a grana.
Afff
Bora? Então bora!
Eu, com 3 malas, toda feliz ouvindo a zabumba do meu coração, cheguei ao guarda volumes:
- Oi eu quero deixar essas 3 malas
- Aqui é só com dinheiro moça
Nos entreolhamos e cai na gargalhada.
Não pode ser. E agora?
Peguei todas as malas e muito brava, mas decidida a curtir minha noite, ia caçar um espaço no salão.
Eis que surge um moreno:
- Eu ouvi a história de vocês, toma aqui o dinheiro.
- Ai brigada moço, vamo logo, Isa.
Cabeça de feminista pensa assim:
Só falta esse cara encher meu saco por causa da grana. Se vier com graça vou pagar a cerveja dele e mandar ele passear.
Nisso, a moça do guarda volumes vira do alto de seu grande cargo dentro da noite carioca, arrogantíssima:
- Já separou tudo, pq vc sabe que nao pode mais pegar as coisas, né?
- Já peguei, tchau.
Isa me olha como quem diz: mas gente que porra é essa?
E eu mandei: Filha, a pequenesa humana é algo muito do tosco. A grande emoção da moça é mandar e desmandar daquele espaço ali. Vambora pra vida, vambora dançar!
Gargalhadas infinitas.
Volta e meia a gente lembrava disso e começava a rir.
O forró rolou perfeitamente.
Depois que cheguei da Inglaterra foi meu primeiro show ao vivo. Eu sabia muito do repertório, e segura, comecei a tirar os cariocax pra dançar. Foi muito massa!
O local é antigo, tem um clima maravilhoso e de quebra uma varanda aonde é possível sentir o vento da Cinelândia bater em nossos rostos.
É amor demais, Ridijanêro!