sexta-feira, 3 de abril de 2009

A arte do desapego


É difícil se desfazer de coisas velhas. Ainda mais quando tendemos ao saudosismo, romantismo e sentimentalismo barato. Seja uma caixa de revista guardada há tanto tempo debaixo da cama, uma sapatilha desbotada nunca usada, conhecidos com quem mantemos contato por pura educação, uma casa caindo aos pedaços, mas que já te trouxe paz por vários anos. É uma faca de dois gumes.

A gente sempre sabe quando está na hora de lotar nosso lixo pessoal, e nem sempre vemos de que maneira fazer isso. As revistas, ainda que velhas, ainda trazem informações. Voltamos ao tempo em que ela era atual. Vemos as modas da época, os hits que bombavam na rádio, o amor dos velhos tempos, as gírias. Por que jogar fora se foi tudo tão bem vivido? É como se as revistas fossem embora junto com uma parte da sua vida. Daí você olha em volta e percebe que o quarto anda lotado demais pra guardá-las por mais tempo.

O mesmo acontece com um grupo de amigos o qual nos distanciamos por motivos de força maior. Cada um seguiu um rumo, sem brigas, mas já não é a mesma coisa. E aí a gente os vê online todos os dias e as conversas não surgem. Acompanhamos suas vidas pelo Orkut, e é aquela sensação estranha que não sei explicar. Mas até o fato de receber um scrap incomoda. A solução pro problema é simples: exclusão de ambas as listas. Pra quê manter contato com quem não te acrescenta em nada? Aí bate o sentimentalismo, você fica na corda bamba, talvez não seja pra tanto, afinal vivemos bons momentos e blábláblá... e acaba deixando tudo como está.

Apego é coisa séria. E às vezes empata a vida. Sou tão apegada às minhas coisas que tenho medo de jogar papéis antigos fora, guardo bilhetes, cartinhas, agendas, roupas, ursinhos, chinelos, toalhinhas, lápis de cor, Nintendinho, dicionário Aurélio, até de escova de dente é difícil me separar. E pra completar, guardo datas, mesmo as tristes. Tô dizendo que apego é coisa séria.

O importante é ver que existe a luz do fim do túnel. Nesse caso, chega o momento de nos desfazer dessas quinquilharias. Fácil não é, mas age tipo Novalgina. Amarga no começo e depois faz passar a dor. Apego também machuca. E aí a gente começa a se sentir mais leve (apesar do clichê, é verdade!), vai trombando com coisas novas, e percebendo que no fim, o medo de abandonar o velho era pura insegurança. Tentemos à nostalgia, mas exercitar o desapego e aceitar o novo também é uma forma de crescimento.


Um comentário:

Renato Sansão disse...

"E aí a gente os vê online todos os dias e as conversas não surgem. Acompanhamos suas vidas pelo Orkut, e é aquela sensação estranha que não sei explicar. Mas até o fato de receber um scrap incomoda."

Détzit, total!!!!!!!

Belo texto, Casé Wine (qt mais velha, mió)

=D