Dublin é aquele namorado capriciorniano frio e calculista que nunca faz uma demonstração de carinho em público, mas quando pega na sua mão, você para e pensa: "Eita!"
Depois de quase noivar com a Inglaterra e o tempo do meu rolo com o Rio, eu cheguei em Dublin com a faca entre os dentes e o coração embrulhado em aço: aqui não, violão!
Sabe quando você tá ficando com alguém e acha que aquilo ali não tem nada a ver, que jajá esse lance acaba, você põe mais reparo nos defeitos do que nas qualidades e age sempre no modo defensivo? Então, foi desse jeitinho.
Dai a Dublinia foi chegando assim, mostrando que tem cadência, que é feita da resistência, que vai usar Gaélico quer queira quer não, e apesar de nem tão imponente ou malandra, ela é bem delicinha e singular, fria só nas ruas, que de pub ela entende bem. Dublin me apresentou minha versão mais cervejeira, me deu um beijo recheado pelo sotaque Irish, me mostrou o tamanho da minha coragem,
e eu fui me entregando ainda que em negação.
Nesse relacionamento fui eu quem enrolei pra assumir, demorei pra querer postar e esbanjar esse amor pro mundo inteiro ver, mas agora tá consumado, tô entregue, tô na tua e tu sabe que não sou de meias palavras ou meios sentimentos. Eu me jogo pro fundo, eu vou sem medo, cada dia uma sensação diferente, ganhando a cidade, conhecendo novos espaços, compondo a minha versão em Dublin. The Liberties, Stillorgan, Firhouse. De cabo a rabo, lendo notícias e pesquisando seus antepassados.
Eu não sei se a gente vai casar, se é aqui que terei os meus filhos ou farei a minha segunda graduação, a única certeza é que cheguei sem saber nada de você e agora eu quero te conhecer ainda mais!
Início de namoro, mais do que o fogo ardente por uma noite de sexo, é a fase principal pra você sentir se aquilo tem futuro. A gente tá se curtindo muito, né não, Dublinia?
quarta-feira, 11 de setembro de 2019
Outuno em Knocklyon
O melhor sono da minha vida teve um up date: Knocklyon, Dublin. No quarto mais bonito e aconchegante que já tive (mais do que o da Vila Sônia), aqui tenho tido minha melhores noites.
Após seis meses de muitas agruras que somam-se por roncos, insônias, áudios de barulho de chuva, incontáveis interrupções e vontade de chorar, eis-me aqui, digitando esse texto do alto da minha cama single, ao lado de meus dois criados-mudo, meu abajur meia luz, meus livros, minha vela aromatizada e todo o resto do espaço que compõe-se meu! Meu quarto, caralho!
Após seis meses de muitas agruras que somam-se por roncos, insônias, áudios de barulho de chuva, incontáveis interrupções e vontade de chorar, eis-me aqui, digitando esse texto do alto da minha cama single, ao lado de meus dois criados-mudo, meu abajur meia luz, meus livros, minha vela aromatizada e todo o resto do espaço que compõe-se meu! Meu quarto, caralho!
Aqui ninguém entra, aqui é meu aconchego, meu reduto, o espaço onde traço meus caminhos, invento meus planos, planejo meu Carnaval, estudo adentro meu novo idioma, é aqui eu tenho a paz e onde recarrego minhas energias, onde escuto e calo os meus medos, onde tenho sonhos mirabolantes e verdadeiros, é aqui onde acordo e sigo na batalha como imigrante nesse país tão frio. A Irlanda é fria, mas o meu quarto é quente.
Pra chegar até aqui eu tive que abrir mão do meu comodismo de morar no Centro.
Agora enfrento trânsito, adolescente chata, tenho responsabilidades que na verdade nem são minhas, preciso me acostumar com uma nova vizinhança. Mas quando é o fim do dia e eu entro aqui, sinto que tomei a decisão certa, ainda que seja só por uma temporada. Eu tenho descansado tanto, deito às 22h30 e acordo só no outro dia, delícia dos Deuses.
Agora enfrento trânsito, adolescente chata, tenho responsabilidades que na verdade nem são minhas, preciso me acostumar com uma nova vizinhança. Mas quando é o fim do dia e eu entro aqui, sinto que tomei a decisão certa, ainda que seja só por uma temporada. Eu tenho descansado tanto, deito às 22h30 e acordo só no outro dia, delícia dos Deuses.
O quarto fica no sótão da casa, bem daqueles que vemos nos filmes. Tem três janelinhas e em uma delas posso ver a claridade do dia quando amanhece, e é dela que escuto os pingos da chuva que embalam o meu sono.
O Outono já é a estação mais bonita pra mim. A luz é clara e o sol não esquenta tanto. Venta demaaaais na Ilha Esmeralda e jajá as folhas começam a cair. Dai o povo começa a falar que lá vem o inverno e lalala como se fosse o apocalipse, e quando ele chegar eu estarei quentinha e aconchegada no meu quarto.
É tanto aprendizado, tanta descoberta, me vejo ainda mais corajosa, cheguei aqui sozinha, ultrapassei a barreira dos seis meses, conheci gente, me esforcei MUITO pra aprender a falar o inglês nativo, e quanto mais o tempo avança, mais eu me conheço e sinto um orgulho imenso de tudo isso. Quem escreve agora é a nova Nathália, a versão nascida em Dublin. É maravilhoso escutar dos Irlandeses que o meu inglês é bom. Olhar pra trás e relembrar tudo o que eu passei pra chegar até aqui, foi foda, é foda e vai ser foda pra sempre.
Aaaahhhh o delicioso gosto de lacrar a realização de um sonho.
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