terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Pela janela


do trabalho pra casa. da casa pro trabalho. da casa pra casa de amigos. da casa pro forró. do forró pra casa, do supermercado para casa, da balada pra casa. de casa pra casa da vó, do trabalho pra casa, da casa pro trabalho. eu moro em um condomínio e na maioria das vezes em meio a tantos trajetos, idas e vindas, imersa num cotidiano que exige rapidez, vejo a menina na janela. Parada, calada, quase uma sombra. Não é bonita, nem feia, tem uma expressão triste, talvez seja casada, sei que tem um filho, é dona de casa.

Tenho flashs dela de cabelo preso e blusa vermelha, cabelo solto e blusa preta, sempre com a mesma expressão de quem vê a vida passar. Só passar. E eu sempre muito feliz, muito brava, muito triste ou muito cansada, nessa intensidade que me suga, penso em como será a vida dela. Às 07h da manhã bêbada penso se ela também já teve noites de esbórnia. Pessimista sem ver solução pros problemas, desejo trocar de lugar com ela. Olha, vai lá e faz o que você quiser, mas me deixa aqui olhando, pensando, olhando, nem sei se vendo, mas olhando essas janelas, esses carros, a avenida, e essa galera sem freio. E ela lá, continua a olhar.

Talvez eu quisesse ter a mesma paciência pra ficar parada olhando. Talvez uns a achem a mais fofoqueira do residencial Jardim Bonfiglioli, talvez a vida dela seja pouco interessante ou tenha muitas questões pra refletir. Ao certo mesmo, não sei de nada. Mas sempre que a vejo ali parada na janela tenho uma vontade de gritar: - Ei fulana, desce! entra aqui no carro e vamos tomar uma cerveja.

Eu e minha inquietação.

Nesses caminhos e vidas que se cruzam em cenas típicas de condomínio e se esbarram entre corredores, estacionamentos, janelas e portarias, a menina fita tudo ao seu redor e me pergunto se precisamos de muito para relaxar ou ser feliz.


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