A vida andava boa. Era festa hoje, jantarzinho amanhã, café na sexta, balada sábado e jogo no bar domingo, um clássico. Não sabia como aguentava tanto vai e vem, mas se ficasse um dia em casa entrava em depressão profunda, era melhor fazer nada na rua. Acostumou-se. Conheceu e ficou conhecida, mas amigos mesmo continuaram não enchendo duas mãos inteiras. Era aquele tipo de crise, pauta recorrente nas revistas: ao mesmo tempo que em que se está rodeado de pessoas, continua-se sozinho.
E entre uma tarde aqui, cerveja lá e entrevistas aos montes, sentou na praça pra esperar o horário da próxima gravação. Avistou um casal de namorados, desses bem apaixonados. Tava na cara que ali era compromisso sério com direito a anel, festa da vovó e presente no aniversário da sogra. Há quanto tempo não gostava de ninguém? Mas GOSTAR mesmo, assim em caixa alta. Lembrou do tempo em que escrevia cartas de amor às 2 da madrugada. Ou por ter perdido o sono em pleno fogo da paixão, ou por estar desesperada, tinham brigado. Só mesmo um grande amor pra fazer com que se escreva cartinhas à tinta em plena Era do email.
Olhou para o outro lado e vinha um casal de idosos, saco de pão nas mãos. Por que será que as praças têm sempre esse ar bucólico, hein? Será que ela um dia iria casar? Ela que sempre foi tão independente e sem paciência? Entre o passado que caminhava de um lado e o futuro que cruzada de outro, preferiu ficar com o presente, o meio, o centro. Levantou e foi encontrar seu entrevistado. Já dizia a música: Sei lá, a vida tem sempre razão.
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