quarta-feira, 13 de abril de 2016

Pote de felicidade

Um potinho de felicidade. Eu nem sabia o quão importante poderia ser um creme de mão na minha vida, mas após tê-lo comigo eu percebi como essas metáforas são importantes, além de bonitas. Havia muito tempo que eu não adquiria nenhum produto de beleza, pois em tempos de crise e falta de trabalho o importante é consumir apenas o necessário.

Para quem faz as unhas em casa, como eu, acetona se faz necessário, mas creme de mão, nem pensar. e seguia eu com as mãos ressecadas após lavar louça ou por alguma roupa para bater. ao invés de resolver logo esse incomodo comprando qualquer coisa pra hidratar as palmas das mãos, eu segui nesse pensamento de economizar. e assim foi com o creme de mão, esmaltes novos, palito de cerejeira e até hidratante corporal. na minha cabeça tudo isso era supérfluo e com R$ 10,00 era mais válido carregar o bilhete único.

eis que me vi inserida novamente no mercado de trabalho pelo período de um mês, tempo combinado para o freela. e o ressecamento foi me incomodando cada vez mais a ponto de todos os dias pedir emprestado o creminho da amiga que sentava ao meu lado na bancada. a cada vez em que eu o passava sentia uma felicidade tão simples e me lembrava como era bom o tempo de ir na farmácia e comprar o que eu quisesse sabendo que tinha saldo para tal.

e então eu percebi que eu poderia sim trazer à tona esse momento efêmero de hidratar as mãos e deixar de gastar com outra coisa que não julgasse tão necessária no momento. decidi que após o trabalho eu iria ao shopping e além de dar uma volta, como tantas vezes fiz, e tantas vezes gostava de andar sozinha olhando vitrine, compraria um creme bem cheiroso e aveludado e que me trouxesse novamente um momento de felicidade diária.

com ele dentro da bolsa eu senti uma alegria singela e foi muito mais do que hidratar as mãos, foi ter consciência que não importa a falta de trabalho ou dinheiro, massagear o ego vez em quando é fundamental para aliviar a vida, cuidar da auto estima se faz necessário quando estamos bem ou não. e agora eu posso cuidar de mim todos os dias através de um tudo de 30 ml, meu potinho de felicidade favorito.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Um novo tom de cinza



Este blog começou em dezembro de 2007 com o objetivo de treinar a escrita, desenvolver textos maiores e não acadêmicos, inventar linguagens. Eu, então no segundo ano de faculdade de jornalismo, e até então apaixonada por São Paulo, decidi rabiscar umas crônicas e segui na minha versão ~ blogueira ~.

O tempo foi passando e tinha vezes em que eu escrevia como se ele fosse um diário,  era a minha terapia preferida para clarear questões amorosas, montar listas singulares, expor meu lado engraçado. Um blog não precisa de um motivo especial, basta existir, ora.

Quase 10 anos se passaram e a vida percorreu caminhos malucos, eu deixei de amar completamente essa cidade que hoje em dia nem é tão mais cinza, conheci e me apaixonei perdidamente por Cuba, mal disse o jornalismo, fui morar sozinha, rodei muito por aí com o Catarino, trabalhei numa rádio, aprendi que o amor mais puro e sincero vem das crianças, continuei indo ao forró e me acabando no Santo Forte,  vendi o Catarino, fui estudar e aprendi na marra a gostar de inglês, passei por altos e baixos e perdi aquela sede de escrever. Acho que fiquei um pouco chata,  perdi o gosto pelo corriqueiro, chata, eu já tinha dito. Vezes passava por aqui, vezes escrevia tudo e só salvava...

A vida é muito louca e eu adoro o que não é planejado. Faz tempo que tenho vontade de dar um pause na vida aqui no Brasil e ver qualequeé  lá fora. Mas tem a crise, tem a falta de trabalho e os freelas que demoram a pagar, tem as contas que batem mensalmente à nossa porta, mas tem vontade também, tem sonho, tem desejo e tem o principal que é a caminhada que vai acontecendo aos poucos.

Esse blog começou em dezembro de 2007 e eu jamais imaginaria que algum dia o Cinza que designei para São Paulo, a terra da garoa, serviria para como fundo de um outro tom de cinza, bem mais distante. Londres, ai vou eu! Londres, talvez a cidade mais cinza do mundo. Lá chove miúdo e continuamente, chove e o céu é pintado de um cinza saído do filme da Tela Quente. Londres. Esse nome que me era tão distante agora vai virar endereço de correspondência.

Eu já falei mil vezes que não quero ser mais jornalista, mas aqui dentro ainda mora uma alma curiosa que consegue pinçar os detalhes. Meu gosto pelo corriqueiro estava esquecido, mas eu o trouxe à tona novamente. Daqui há exatos 11 dias estarei escrevendo meu primeiro texto de lá. Eu nem sei como cheguei até aqui. Mentira sei muito bem e sinceramente não foi nada fácil. Mas cá estou com dois pés bem firmes no chão, uma barbatana ativa que não para de se mexer, a mala quase pronta, um casamento no meio do caminho e dois freelas que só me pagarão quando eu já estiver me habituando por lá, porque o bolo a gente sabe, carece de ter cereja.
São 11 dias que parecem 11 anos.

Hello, London!
Nice to meet you too.