quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Voltar também faz parte




Voltei de Cuba com muitas sensações. Algumas já se concretizaram e assim facilita escrever, externalizar. Voltei com ainda mais certeza de quem sou, do que gosto e desgosto, dos meu limites, da minha coragem e sinceridade, da impulsividade que me faz largar e voltar, pular ou ficar.

Voltei com saudade dos meus pais, da raiz, do lugar do qual sai, essa sensação pra mim é nova. Logo eu, a ovelha desgarrada da família - como já diria minha mãe - com saudade? Pois é.

Voltei mais apaixonada pelo Demis, entendendo questões que antes relutavam em entrar na minha cabeça (pela educação, pelo ritmo, pela cultura com que cada um foi criado). Agora conheço suas raízes, sua família, o cenário em que foi criado, as paisagens da infância, os detalhes na criação do filho. O conheço mais e conheço mais a mim também.

Voltei dando mais valor ao dinheiro, às roupas, aos sapatos, aos móveis, aos bens materiais. Não me considero muito consumista, mas voltar de Cuba me fez enxergar que tenho muito. Voltei com o peito cheio de vontade de conhecer outros lugares, outros caminhos, novos cheiros e povos. Voltei com sonhos, planos, anseios, metas.

Voltei com vontade de aprender (logo) a falar espanhol fluente. La lengua me encanta, assere!

Voltei (mais) apaixonada pelo Brasil. Durante 24 dias ouvindo espanhol, um cubanês rasgado e rápido, ouvir um pouco de português, reconhecer alguns brasileiros perdidos na ilha, era de encher os ouvidos e aquecer o coração. E ouvir sambas, erguer a bandeira na janela e lembrar porque é que eu adoro tanto ser apelidada de Brasil. Um Brasil de Martinho, Cartola, Gonzaga, Clara, Elis, responsáveis por embalar a festa e animar ainda mais a bebedeira.

Essa viagem foi um verdadeiro presente. Um presente que eu mesma construí. Poupei festas, economizei cervejas, comi arrozefeijão aos finais de semana (querendo morrer!), deixei de comprar roupas, das mais simples às mais rebuscadas, engoli infinitos sapos no trabalho, engoli infinitos sapos dentro de casa, deixei meu carro ainda mais velho, me afastei da terapia, me afastei do forró, passei a fazer a conversão Real>Dólar>Cuc, e TUDO, T-U-D-O valeu a pena. Faria tudo novamente com certeza!

Voltar é concretizar todo o processo da viagem que começou lá pelos idos de maio. Voltar é curtir uma viagem que agora é guardada na memória. É por os pés no chão e degustar através de fotos e contos tudo o que vivi e não foi sonho, foi real! Voltar é curtir a saudade e programar a próxima viagem.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Cuba, Ilha de Contradições (parte 1)

Hoje completa uma semana que retornei de Cuba.
Esperei um tempo para acalmar o coração,  
sentar e escrever. Fui sentindo, degustando, e em meio a esse retorno de rotina, família e amigos, fui contando a eles um pouco do que vivi por lá. Contei que há duas Cubas: a dos gringos, exótica, meio roots, com belas praias, atividades culturais baratas e de boa qualidade, restaurantes charmosos e com hotéis chiques. E a Cuba dos cubanos - a ilha da contradição, do rum barato, de andanças e ônibus lotados, dos táxis que deixam cheiro de diesel nas roupas, das comidas de rua não tão boas assim e nem tão frescas, do turismo que ainda está em desenvolvimento, de um povo acomodado e feliz, que sabe viver com o simples, que sabe viver sem essa necessidade de se matar para trabalhar, a Cuba de um povo que vive da troca, que não tem internet nem Facebook, que é fascinado por novela brasileira e pelo Brasil, a Cuba simples e comovente por assim ser simplesmente.

Tem música dentro do ônibus, o pão é entregue sem papel, embrulho ou sacola, alguns bolos decorados não vêm embalados e é normal andar com um bolo nas mãos pelas ruas de Havana. As mulheres usam unhas de acrílico enormes, sempre pintadas e com alguns detalhes desenhados. A Cuba que eu conheci e pela qual me apaixonei, tem um cheiro misturado de perfume barato, mar e diesel. Foi no Cerro, bairro próximo a Santo Suarez, que meu um click. 

Voltávamos do estádio LatinoAmericano onde assistíamos um jogo de beisebol  do Industriales, que fora interrompido por conta de uma forte chuva. Ignoramos a água e decidimos voltar para casa a pé. Era noite de terça-feira, passava Avenida Brasil e dava para ouvir a novela pelas televisões da vizinhança.  Eram poucas as casas que não acompanhavam a saga de Nina e Carminha. Andamos tranquilamente pelo bairro e pude praticar minha atividade preferida em Cuba, que foi olhar dentro das casas e tentar sentir um pouco como é que vivem, observar sem julgamento, observar e me incluir, fazer de conta de que eu era de lá. Casas humildes, móveis antigos, chão e paredes sem reboco, muitos porta retratos e quadros com fotos penduradas. Mesas de aço antigas, sofás velhos, cadeiras de balanço de madeira, cadeiras de balanço de plástico, moto estacionada dentro da sala. E famílias vidradas na novela. Senhores, jovens, crianças, adultos distraiam-se com o folhetim de João Emmanuel Carneiro após um dia quente de inverno. Paramos em uma doceria. Prateleiras vazias, doces velhos, rosquinhas gostosas. 

Em muitos momentos senti um nó na garganta. Não sei se o nó era por mim, que reaprendia a dar valor às coisas simples, ou se era pelos cubanos, que acostumados com essa vida, nem se questionavam sobre uma possível melhoria, um outro ritmo, uma outra vida. 


Talvez as palavras não sejam suficientes para descrever tudo o que é esse país e como eu o descobri, a ilha de 12 milhões de cubanos e toda a peculiaridade, ritmo, sangue e vida dos que vivem numa constante contradição.


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

(...)

voltei... com histórias, experiências, outra visão de mundo e de vida. já tinha ouvido que Cuba era um lugar mágico e que de alguma maneira modificava as pessoas, mas estando lá não percebia, a ficha só caiu quando pisei em São Paulo... agora entendo tantas outras coisas, outras tantas só agora fazem sentido. E eu tbm mudei. só que ainda não tenho crteza das mudanças. elas estão aqui dentro e o tempo em que ficarão aqui só comigo em rascunhos e nuances eu ainda não sei.

voltar não é de todo ruim. é apenas voltar à mesma vida e rotina certinha da qual sai por um mês.
só que não.